Resenha: “Drawing The Target Around The Arrow”, CEP

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2017

Artista: CEP
Gênero: Ambient, Eletrônica, Experimental
Acesse: https://thecreativeindependent.com/

A voz sempre foi encarada como um componente fundamental dentro da carreira de Caroline Polachek. Seja no pop nostálgico do Chairlift, projeto em parceria com o músico Aaron Pfenning, em canções produzidas para artistas como Beyoncé, caso de No Angel, e até no curioso Arcadia (2014), primeiro registro da cantora sob o título de Ramona Lisa, grande parte do material assinado pela artista norte-americana fez dos versos e vozes um estímulo para seduzir e conquistar o ouvinte.

Curioso perceber em Drawing The Target Around The Arrow (2017, Independente), novo registro solo de Polachek, a passagem para um ambiente dominado pela completa ausência dos vocais. Em entrevista ao site The Creative Independent, por onde lançou o trabalho de temas minimalistas  gratuitamente, a artista comentou a decisão: “Naturalmente eu queria experimentar, inserir a voz, afinal, é isso o que eu faço. Gravei [os vocais] e percebi que a coisa toda parecia desmoronar”.

De essência atmosférica, o registro de 18 composições inéditas se espalha sem pressa, sempre de forma contida, tímida. São sintetizadores, ruídos e colagens eletrônicos que funcionam como uma fina tapeçaria instrumental. Músicas detalhadas em um curto espaço de tempo – dois ou três minutos –, conduzindo o ouvinte para dentro de um cenário livre de possíveis excessos, como se Polachek evitasse ao máximo ultrapassar uma possível linha conceitual.

Na contramão de qualquer trabalho recente produzido por Polachek, Drawing The Target Around The Arrow é um registro que investe no completo isolamento das canções. Trata-se de uma obra hermética, por vezes difícil de ser absorvido, efeito da forte similaridade entre as canções. Melodias tímidas e loops simples, despidos do mesmo universo de texturas e sobreposições complexas que alimentam grande parte dos trabalhos protegidos sob o rótulo de “ambient music”.

É justamente esse exagero na polidez e controle excessivo que prejudica o crescimento do trabalho. Difícil pensar no registro como uma obra completa, afinal, grande parte das canções são apresentadas ao público como pequenos esboços. Salve exceções, como Window Seat e a delicada Singalong, Polachek parece dar voltas em torno de uma mesma composição, fazendo do álbum uma obra ausente de ritmo, espaçada pela criação de verdadeiros bolsões de silêncio.

Como indicado pela própria cantora em recente entrevista, Drawing The Target Around The Arrow está longe de parecer um registro comercial, íntimo de qualquer registro recente produzido pela artista – principalmente com o Chairlift. Trata-se de uma obra fechada, um trabalho pensado como a trilha sonora de uma “performance artística ou aula yoga”. Respiros e ambientações tímidas que indicam um improvável ponto de partida para uma nova fase na carreira de Polachek.

Drawing The Target Around The Arrow (2017, Independente)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Ramona Lisa, Julianna Barwick e Huerco S.
Ouça: Singalong e Window Seat

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.