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Críticas

Jessie Ware

: "Glasshouse"

Ano: 2017

Selo: Island

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Adele e Beyoncé

Ouça: Alone, Selfish Love e Your Domino

8.3
8.3

Resenha: “Glasshouse”, Jessie Ware

Ano: 2017

Selo: Island

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Adele e Beyoncé

Ouça: Alone, Selfish Love e Your Domino

/ Por: Cleber Facchi 24/10/2017

O amor sempre foi encarado como o principal combustível para os trabalhos de Jessie Ware. Dotada de uma sensibilidade rara, a cantora e compositora britânica fez do curto repertório formado pelos discos Devotion (2012) e Tough Love (2014) a ponte para um universo de sentimentos expostos, conflitos e temas existenciais. Canções sufocadas pela saudade, permanente angústia ou simples confissão romântica, cuidado que se reflete nos arranjos e versos cuidadosamente tecidos para o mais comercial e, ao mesmo tempo, inovador trabalho da artista britânica, Glasshouse (2017, Island).

Logo na abertura do disco, um convite (“Você me puxa profundamente em meus desejos mais profundos / Você pode me encontrar na meia-noite?“) e a lenta entrega do eu lírico (“Talvez eu te ame / Talvez eu queira / Talvez eu precise de você“), fazendo de Midnight uma síntese delicada de toda a obra. Um profundo diálogo com o R&B/Soul dos anos 1990, como uma natural extensão do trabalho passado que ainda se conecta à crescente Thinking About You, música que parece saída do trabalho de Beyoncé no maduro 4 (2011).

Em Stay Awake, Wait for Me, terceira faixa do disco, uma delicada viagem em direção ao passado. Instantes em que Ware confessa os próprios sentimentos (“Imagine isso, um beijo sem fim / Você pendurado em meus lábios“), fazendo da poesia sutil um complemento à atmosfera jazzística da canção, lembrando em alguns aspectos a obra de Sade, uma de suas principais referências. Versos e arranjos tratados com extrema leveza, como uma fuga do conceito dançante que invade Your Domino, faixa que acaba lembrando o trabalho de Ware em If You’re Never Gonna Move, do primeiro álbum de estúdio.

Na sequência formada por Alone e Selfish Love, o ápice do álbum. De um lado, a força avassaladora dos versos (“Diga que você é quem está me levando para casa / Porque eu quero você na minha pele e nos meus ossos“) e arranjos que invadem o mesmo território autoral de Adele, amiga íntima de Ware. Na composição seguinte, um tempero latino, melancólico, porém, dotado de raro frescor, reflexo da profunda interferência dos parceiros Happy Perez, Benny Blanco e Cashmere Cat, como uma abertura criativa e busca declarada por novas possibilidades, transformação evidente na versão em espanhol que acompanha o single da mesma faixa.

De volta ao R&B dos anos 1990, Ware faz de First Time um novo olhar em direção ao passado, lembrando os clássicos da época. Um cuidado que se reflete no pop romântico de Hearts, música que chega logo em sequência e se conecta diretamente ao conceito amargo, dolorosamente arrastado de Slow Me Down (“Correndo em círculos, sem escapar / Você será o oceano e eu serei a onda“), composição em que Ware mais uma vez esbarra na obra de Beyoncé, dessa vez, emulando as baladas sentimentais de I Am… Sasha Fierce (2008).

Passada a sequência formada por Finish What We Started e Last of the True Believers, parceria com Paul Buchanan e evidencia declarada do som comercial detalhado por Ware, Glasshouse se abre para a derradeira Sam. Homenagem ao marido e amigo da infância Sam Burrows, a canção assinada em parceria com Ed Sheeran cresce lentamente, mergulhando em um soft rock precioso, sensível, como se ao final do turbilhão emocional que acompanha o ouvinte desde Midnight, Jessie Ware pudesse finalmente descansar, buscando conforto em um ambiente de forte acolhimento sentimental.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.