Resenha: “iiiDrops”, Joey Purp

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2016

Artista: Joey Purp
Gênero: Hip-Hop, Rap, Alternative
Acesse: https://soundcloud.com/joey-purp

 

Original da cidade de Chicago, Illinois, Joey Purp passou os últimos quatro anos atuando em parceria com diferentes representantes da cena local. Artistas como Chance The Rapper, Vic Mensa, Brian Fresco, Thelonious Martin e demais integrantes do coletivo SaveMoney. Parceiros de composição desde a inaugural The Purple Tape, mixtape entregue ao público em meados de 2012, mas que voltam a se encontrar dentro do recém-lançado iiiDrops (2016, Independente), segundo e mais recente registro de inéditas produzido pelo rapper.

Movido pela parcial urgência de Morning Sex, canção de abertura do disco, o trabalho de 11 faixas lentamente se perde em um universo turbulento de rimas e versos essencialmente caóticos. Sexo, drogas, violência urbana, pequenos excessos, crimes e conquistas. Um resumo intencional de todo o catálogo de composições que Purp assume individualmente (Photobooth, Say You Do, Kids) ou mesmo em parceria (Winners Circle, Cornerstore, When I’m Gone) até o último instante da obra.

São composições que nascem como um reflexo da vida tumultuada do rapper (Winners Circle), mergulham no passado recente de Purp e seus colaboradores (Cornerstore), além de faixas que esbarram em temas políticos/sociais (When I’m Gone) de forma sempre acessível. Claramente influenciado pelo trabalho de Chance The Rapper em Coloring Book (2016) e até Kanye West em Graduation (2007), Purp finaliza uma obra que se projeta de forma comercial, “pop” mesmo na sobriedade de versos marcados pela criminalidade.

Um bom exemplo disso está em Photobooth. Composição mais “pegajosa” do trabalho, a canção movida pelo uso batidas rápidas, pronta para as pistas, sustenta nos versos um bem-sucedido catálogo de rimas sobre o mundo de falsas conquistas das redes sociais. Mais do que uma reflexão pessimista sobre a nossa sociedade e modo de consumo, um ataque direto a outros representantes do Hip-Hop de Chicago – “These niggas old, they carbon dated, these niggas fossils / These niggas fake and these niggas actors, they need an Oscar”.

Em Kids, nona canção do disco, o mesmo cuidado e explícita versatilidade do rapper. Ao mesmo tempo em que produz uma faixa de forte apelo comercial, reforçando o peso das batidas e vozes, Purp discute o consumo excessivo de drogas e a interferência direta do tráfico na vida de crianças e adolescentes. Melancólica, When I’m Gone amplia ainda mais o mesmo debate. São versos que apontam o completo descaso de políticos e entidades assistenciais com a população – “Tudo o que eu quero saber é o que eles vão fazer quando eu me for?”.

Mesmo cercado por diferentes colaboradores – como Chance The Rapper em Girls e Vic Mensa em Winners Circle –, Joey Purp está longe de parecer um coadjuvante. Observado em paralelo ao trabalho lançado em 2012, iiiDrops confirma a maturidade e plena coerência do jovem rapper durante a execução de cada uma das 11 faixas. Trata-se de uma obra enxuta, precisa em cada rima, oposto de grande parte dos trabalhos – principalmente mixtapes – que diariamente abastecem o imenso acervo da cena norte-americana.

 

iiiDrops (2016, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Chance The Rapper, Vic Mensa e Brian Fresco
Ouça: Photobooth, When I’m Gone e Morning Sex

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.