Resenha: “Líquido ou a vida pede mais abraço que razão”, Tibério Azul

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2017

Artista: Tibério Azul
Gênero: MPB, Alternativo, Indie
Acesse: http://tiberioazul.com.br/

 

Seja como integrante do grupo Mula Manca & A Fabulosa Figura ou nas canções assinadas em parceria com diferentes nomes da cena pernambucana, Tibério Azul sempre foi um artista que acreditou na força do coletivo. Basta uma rápida passagem pelo primeiro registro de inéditas do cantor, o colorido Badarra (2011), para perceber a força das ideias, ritmos e diferentes mentes criativas que circulam pelo interior do trabalho, proposta que volta a se repetir nas canções de Líquido ou a vida pede mais abraço que razão (2017, Joinha Records), segundo álbum e mais recente álbum do músico em carreira solo.

Longe da terra, árvores altas e outros elementos esverdeados da natureza que serviram de inspiração para o trabalho lançado há seis anos, o artista recifense encontra na temática da água, chuvas, corredeiras e mares o ponto de partida para a construção de parte expressiva das canções. Em parceria com o produtor Yuri Queiroga, uma fina coleção de músicas que reflete a composição mutável dos sentimentos, relações pessoais e conflitos que invadem a mente do cantor.

E se a chuva nunca chegar / A gente vai é chover por aí / Eu molhando tu / E tu molhando eu”, detalha em Chover, bem-sucedida parceria com a cantora e compositora Clarice Falcão e um doce retrato da poesia metafórica que sustenta o disco. Em Sem Ontem e Sem Amanhã, quarta faixa do álbum, o mesmo cuidado na composição dos versos. “A chuva corre em pedaços / As gotas formam o mesmo rio / Nos braços dessa correnteza / Tudo me trouxe para tu”, canta enquanto a viola de Rodrigo Samico se espalha lentamente ao fundo da canção.

O mesmo conceito “líquido” incorporado aos versos acaba se refletindo na sonoridade versátil do trabalho. São diálogos expressivos com o jazz (Faz Favor), experimentos que bagunçam diferentes aspectos da música regional (Nem A Pedra É Dura) e até canções que brincam com o passado de forma nostálgica (Dindim). Uma verdadeira sobreposição de melodias, gêneros e tendências musicais, proposta que encanta logo nos primeiros minutos do disco, na homônima faixa de abertura, e segue até o último acorde de A vida pede mais abraço que razão.

Dentro desse imenso fluxo criativo, Tibério estabelece pequenas pontes e passagens para a chegada de um time de colaboradores. Além de Clarice Falcão em Chover, o músico Pedro Luis toma conta dos vocais na curiosa Nem A Pedra é Dura. Parceiro de longa data do músico, o pianista Vitor Araújo assume uma posição de destaque nas faixas Faz favor e Deixa Assim, sendo ainda responsável pelos arranjos de Dindim. Surgem ainda músicos como Zé Manoel, Vinicius Sarmento, Castor Luiz, Jam da Silva e outros nomes de peso da cena pernambucana.

Da encarte cuidadosamente planejado por Raul Luna – também responsável pela arte de Levaguiã Terê (2016), de Vitor Araújo –, passando pela masterização atenta de Ricardo Garcia, cada elemento explorado por Tibério Azul em Líquido se revela como um componente de destaque para a obra. Arranjos e versos que se espalham em meio a corredeiras complexas, instantes de pura calmaria, curvas, quebras e improvisos que delicadamente ampliam o território originalmente desbravado em Bandarra.

 

Líquido ou a vida pede mais abraço que razão (2017, Joinha Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Vitor Araújo, Pélico e Felipe S.
Ouça: Sem Ontem e Sem Amanhã, Chover e Faz Favor

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.