Image
Críticas

Jorja Smith

: "Lost & Found"

Ano: 2018

Selo: FAMM

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Kali Uchis, Rihanna e Amber Mark

Ouça: February 3rd e Lost & Found

8.0
8.0

Resenha: “Lost & Found”, Jorja Smith

Ano: 2018

Selo: FAMM

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Kali Uchis, Rihanna e Amber Mark

Ouça: February 3rd e Lost & Found

/ Por: Cleber Facchi 22/06/2018

Se o seu primeiro contato com o trabalho de Jorja Smith foi na breve colaboração em Get It Together, uma das principais faixas de More Life (2017), do rapper Drake, ou no excelente remix de On My Mind, produzido pelo inglês Preditah, Lost & Found (2018, FAMM), estreia da jovem britânica, talvez desaponte. Longe dos temas dançantes incorporados pela cantora e compositora, cada fragmento do presente registro se projeta de forma contraída, como um interpretação sensível da artista sobre a própria alma, medos e sentimentos.

Então me diga como vou encontrar amor em você? / Se eu nem sei o que eu quero de você / Porque nós dois queremos coisas diferentes / Por que este não pode ser um tema comum?“, canta logo na inaugural faixa-título. Um ato lento e misterioso, agridoce, como uma propositada separação de tudo aquilo que Smith havia testado anteriormente. Melodias e vozes sutilmente costuradas em meio a batidas secas, como um replicar das experiências lançadas no início dos anos 1990, lembrando o som produzido por veteranos como Massive Attack e Portishead.

Maior quando próximo do material quando próximo do material apresentado em Project 11 (2016), primeiro EP da cantora, Lost & Found segue exatamente de onde Smith parou há poucos meses, durante o lançamento da parceria com o rapper Stormzy, em Let Me Down. Do momento em que tem início, na já citada faixa-título, cada elemento do álbum se revela ao público em pequenas doses, estímulo para a formação de atos essencialmente sensíveis, como na balada Where Did I Go? e Blue Lights, música que ainda se abre para a inserção de rimas e scratches.

Em February 3rd, quarta faixa do disco, um acumulo de todas essas preferências. Das batidas e inserções minimalistas que vão do R&B ao soul dos anos 1970, passando pela delicada sobreposição de samples e versos românticos (“O que seus olhos não veem? / Por que você não se perde por mim?“), difícil não se deixar conduzir pelo misto de melancolia e provocação que invade a faixa. Mesmo quando se entrega às rimas, como Lifeboats (Freestyle), perceba como cada elemento do álbum parece trabalhado com vívido esmero.

O grande problema de Lost & Found se reserva claramente à segunda metade do disco. Por mais sensível que seja o trabalho durante toda sua execução, não há como ignorar o forte aspecto monotemático da obra, como se a cantora dessa voltas em torno do mesmo universo romântico. Dessa forma, músicas como Goodbyes, Tomorrow e todo o eixo final do disco se revela ao público de forma arrastada, como uma contínua reciclagem de temas e experiências particulares. Falta renovação, tropeço leve que seria facilmente solucionado no busca por novos ritmos, conceito adotado pro Amber Mark no ótimo Conexão EP (2018).

Mesmo parte complementar em uma sequência de obras que vem reformulando o R&B/soul nos últimos meses — como Isolation (2018), de Kali Uchis, e Crush (2018), da cantora Ravyn Lenae —, a estreia de Jorja Smith parece seguir o próprio caminho. Livre da ambientação nostálgica que orienta outros lançamentos próximos, cada fração de Lost & Found se projeta dentro de uma estrutura particular, dialogando com o passado de forma curiosa, porém, em uma linguagem sensível e marcada pelo frescor.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.