Resenha: “Mamba”, Sammliz

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2016

Artista: Sammliz
Gênero: Rock, Rock Alternativo, Stoner Rock
Acesse: https://www.facebook.com/SammSammliz/

 

Fotos: Julia Rodrigues

Como vocalista do Madame Saatan, Sammliz e os parceiros de banda passaram grande parte da última década brincando com as possibilidades. Versos cantados em português, diálogos com a música regional produzida no Norte do país, e todo um conjunto de experimentos que bagunçaram o ambiente restritivo e, muitas vezes preconceituoso, do metal brasileiro. Um verdadeiro ensaio para o som que cresce livre no interior de Mamba (2016, Natura Musical), primeiro registro da cantora em carreira solo.

Denso do primeiro ao último acorde, o álbum de 10 faixas — primeiro registro da artista desde Peixe Homem (2011), ainda como integrante da Madame Saatan —, mostra Sammliz em um ambiente dominado pelas guitarras e versos obscuros. Personagem central da própria obra, a cantora sussurra, grita, encolhe e cresce a todo instante, mergulhando em uma série de ambientações que atravessam o rock da década de 1970 e rivalizam com o som de bandas como Queens of The Stone Age.

De fato, a relação com o material produzido por Josh Homme ecoa em diversos momentos da obra. Um bom exemplo disso está na segunda faixa do disco, Oya. Enquanto a letra da canção mergulha uma letra marcada pela subjetividade — “Sem trovões iguais em mim / Enquanto eu estou aqui / Sem trovões iguais em mim / Enquanto eu” —, guitarras robóticas, batidas e ruídos eletrônicos indicam a construção de um som urgente, íntimo de obras como Songs for the Deaf (2002) e …Like Clockwork (2013).

Ainda assim, está na música produzida há mais de quatro décadas a base para grande parte do trabalho apresentado pela cantora. Logo na homônima faixa de abertura, Sammliz mergulha em um oceano de temas psicodélicos, empoeirados e nostálgicos, detalhando de forma metafórica a transformação do próprio corpo em diferentes elementos da natureza e formas animalescas. Um verdadeiro delírio poético, estímulo para todo o catálogo de composições que surgem logo em sequência.

Fruto da colaboração entre a cantora e os músicos Leo Chermont (Strobo) e João Lemos (Molho Negro), o álbum que ainda conta com direção artista do produtor Carlos Eduardo Miranda parece capaz de prender a audição do público logo na primeira audição. Da abertura ao fechamento do disco, uma delicada coleção de guitarras, batidas limpas e doses controladas de efeitos, elementos que funcionam como um precioso alicerce para a voz forte da cantora, tão segura e forte quanto na curta discografia do Madame Saatan.

Enigmática, Sammliz detalha sentimentos (Quando Chegar o Amanhã), mergulha em relacionamentos tumultuados (Fucking Lovers) e ainda busca conforto na construção de uma poesia sufocada pela melancolia (Meu bem). Como uma serpente que desliza pela areia seca do deserto, hipnótica, Mamba encanta pela completa incerteza dos movimentos, vozes e arranjos, como se o ouvinte fosse convidado a explorar de forma atenta cada uma das canções que preenchem do disco.

 

Mamba (2016, Natura Musical)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Karina Buhr, Ava Rocha e Cidadão Instigado
Ouça: Mamba, Oya e Fucking Lovers

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.