Resenha: “O Meu Nome é Qualquer Um”, César Lacerda e Romulo Fróes

/ Por: Cleber Facchi 07/11/2016

Artista: César Lacerda e Romulo Fróes
Gênero: Indie, Folk, Alternativo
Acesse: http://omeunomeequalquerum.blogspot.com.br/

 

Equilíbrio. Não existe palavra que melhor sintetiza o trabalho da dupla César Lacerda e Romulo Fróes em O Meu Nome é Qualquer Um (2016, Circus / YB). Primeiro registro da parceria entre o cantor mineiro e o músico paulistano, o álbum de arranjos minimalistas e versos ancorados em temas políticos cresce de forma sutil, detalhando uma coleção de versos descritivos, angústias, reflexões e cenários urbanos que servem como pano de fundo para um mesmo personagem.

No disco, uma espécie de anti-herói contemporâneo percorre o Brasil de agora tentando compreender a complexa miríade de assuntos à sua volta. O problema racial, o terceiro sexo, as redes sociais, o assassinato de crianças negras na favela, o amor, a morte“, resume o texto de apresentação da obra. São composições produzidas e gravadas em um intervalo de apenas seis meses, urgência que em nenhum momento se reflete na completa delicadeza do álbum.

Dividido entre as melodias ensolaradas de Lacerda e o tom sóbrio de Fróes, o disco soa como uma extensão adaptada dos dois últimos trabalhos de cada um dos músicos em carreira solo. Vozes, versos e arranjos conceitualmente opostos, mas que acabam se completando no interior do álbum. De um lado, a leveza e o romantismo sonhador que se espalha pelas canções de Paralelos & Infinitos (2015), no outro, a atmosfera cinza que corrói Barulho Feio (2014).

Um bom exemplo disso está na construção de O Homem Que Sumiu, música em que a voz de Fróes ganha destaque, mergulhando em uma coleção de arranjos e temas acústicos, típicos da obra de Lacerda. Uma completa fuga de tudo aquilo que artista paulistano vem produzindo nos últimos anos. No samba Tique Taque, uma inversão. Sempre radiante, a voz do músico mineiro parece encolher, passeia por entre versos declamados e acaba flertando com a obra do parceiro.

Em um exercício de pura leveza, as vozes assentam, sem pressa, estabelecendo a base de todo o registro. Canções que escancaram o racismo (“Ah, a estatística / Morre um numeral / Um negro número / E jaz sobre o jornal”), detalham personagens (“Um nem dois, nem / Muito mais de cem / Fui de quem chamou meu nome / O meu nome é qualquer um”) e seus conflitos (“Nosso caso é feito uma flecha empenada, ai, ai / Quem por um segundo nos veria como um casal?”).

Responsável pelos violões, guitarras e outros instrumentos ao longo do disco, Rodrigo Campos assume um papel tão importante para o crescimento do trabalho quanto Fróes e Lacerda. São movimentos sutis, cíclicos, por vezes sufocantes. Melodias e arranjos melancólicos que parecem cercar lentamente as vozes lançadas pela dupla, detalhando o imenso conjunto de ideias, personagens e temas que se espalham pelo interior do registro.

 

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O Meu Nome é Qualquer Um (2016, Circus / YB)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Rodrigo Campos, Passo Torto e Juliana Perdigão
Ouça: Tique Taque, O Meu Nome é Qualquer Um e Flecha Empenada

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.