Image
Críticas

Angel Olsen

: "Phases"

Ano: 2017

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Torres

Ouça: Special e California

8.0
8.0

Resenha: “Phases”, Angel Olsen

Ano: 2017

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Torres

Ouça: Special e California

/ Por: Cleber Facchi 13/11/2017

Em um intervalo de poucos anos, Angel Olsen foi de mera coadjuvante nas canções produzidas por Bonnie “Prince” Billy, para um dos grandes nomes do folk/country norte-americano. Basta perceber a evolução que orienta os trabalhos da cantora desde a estreia, com Half Way Home (2012), passando pelo maduro Burn Your Fire for No Witness (2014), até a construção do confessional My Woman (2016), obra de essência intimista que apresentou o canto melancólico da musicista a uma parcela ainda maior do público.

Com os ouvidos apontados para esse curto período de tempo, Olsen faz do recém-lançado Phases (2017, Jagjaguwar), coletânea de “sobras” com algumas das músicas que acabaram de fora da edição final dos últimos discos, um minucioso resgate criativo da própria carreira. Fragmentos caseiros, gravados em um estúdio improvisado, caso de Only With You, ou mesmo faixas extensas, como na crescente Special, música abortada de My Woman, que mostram as múltiplas identidades e pequenas transformações da norte-americana.

Agridoce, como tudo aquilo que orienta o trabalho de Olsen desde a estreia com Half Way Home, Phases se perder em um labirinto de emanações sorumbáticas, como um novo olhar sobre a alma atormentada da artista. “Você não precisa sair / Ou caminhar também / Você não precisa ir atrás / De alguém novo / Você não precisa segurá-la / Na ponta dos seus dedos / Sempre esteve lá com você / Você é o que é“, canta em All Right Now, faixa gravada durante as sessões de Burn Your Fire For No Witness e um resumo da poesia entristecida do disco.

Do mesmo álbum vem a já conhecida Only With You, música que resgata de forma sutil a atmosfera caseira dos primeiros álbuns de Elliott Smith, crescendo na forma como os versos dialogam de forma dolorosa com o ouvinte – “Você pode amar, você pode perder / Aqui estou eu, aqui está você / Eu não sei para onde estamos indo / Ou onde estivemos“. Um som deliciosamente amargo, nada que se compare ao cuidado na construção de California, sétima faixa do disco – “Você sabe que eu não me importo / E se você me levar, eu deixarei você quebrar meu coração“.

Em Sweet Dreams, sexta faixa do disco, um som enérgico, cru, capaz de tocar a mesma estrutura de faixas como Shut Up Kiss Me e outras composições há poucos lançadas pela cantora. Na inaugural Fly On Your Wall, um som propositadamente arrastado, doloroso, como um indicativo da poesia sensível que acompanha o ouvinte durante toda a execução do trabalho. Quinta faixa do disco, Sans parece jogar com os instantes, como um novo convite a se perder pelo interior da obra, reforçando o lirismo doloroso que orienta a experiência do público durante toda a execução do álbum.

Feito para ser ouvido sem pressa, Phases, como o próprio nome indica, pinta um retrato necessário da música produzida por Angel Olsen nos últimos anos, passeando por entre diferentes fases e experimentos da musicista. Trata-se de uma obra capaz de dialogar com as mais variadas faixas de público, como se a cantora norte-americana transformasse os próprios sentimentos no principal componente do disco, revelando uma obra empática, conceito que vem sendo reforçado desde a estreia com Half Way Home, mas que cresce nas canções de My Woman.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.