Resenha: “Quarup”, Quarup

/ Por: Cleber Facchi 17/10/2016

Artista: Quarup
Gênero: Indie Pop, Alternativo, Psicodélico
Acesse: https://www.facebook.com/bandaquarup/

Fotos: Maria Romero

Cada composição presente no primeiro álbum de estúdio da banda paulistana Quarup é um objeto de destaque, a ser observado de forma atenta pelo público. O som empoeirado que sopra das guitarras psicodélicas de O Mensageiro. A letra subjetiva, repleta de significados ocultos e melodias minimalistas em Estrela Da Manhã, parceria com a cantora Ná Ozzetti. Versos essencialmente românticos, delicados, que se prendem a cada fragmento instrumental de Lila — “Lila, cansei de desatino / Eu quero o teu destino amarrado juntinho do meu”.

Concebido de forma “artesanal”, durante o intervalo de mais de um ano, o registro de 13 faixas e exatos 50 minutos de duração reflete o esforço e clara interferência de cada integrante da banda em estúdio. Aos comandos de Guta Batalha (Vocais), Ione Aguiar (guitarras, violões e vocais), Beni Teixeira (piano, teclados e vocais), Marcelo Maia (baixo e vocais) e Lucas Cassoli (bateria, percussões e vocais), um curioso e colorido experimento que dialoga de forma explícita com a imagens que preenchem o encarte e capa do disco – trabalho de Aruana Ribeiro.

Inspirado de forma confessa no som produzido por veteranos dos anos 1960 (Os Mutantes, Caetano Veloso) e 1970 (Novos Baianos, Milton Nascimento), a estreia do quinteto de São Paulo nasce como um precioso exercício autoral de revisitar o passado. Melodias, referências nostálgicas e temas que dialogam de forma declarada com a música produzida há quatro ou cinco décadas, mas que em nenhum momento se distancia do presente, abraçando e incorporando com naturalidade as memórias e experiências pessoais cada integrante da banda.

Doce criança, quando eu te perdi o tempo era um menino”, sussurra a letra de Uma Amizade Que Veio do Mar, um dueto que coleciona fragmentos da infância e ainda dialoga com cenas e elementos da animação Ponyo (2008), de Hayao Miyazaki. Em Pedra Rara, quarta faixa do disco, uma complexa declaração de amor que se distancia do óbvio para brincar com as palavras – “Que vaidade minha te despir sem pejo / Seixos que pesquei no mar, para enfeitar teu colo / Os mais lindos martins de que se tem notícia / Não houvesse tu, meu bem / paravam de cantar, pois”.

Obra de possibilidades, a estreia da Quarup cuidadosamente joga com o uso de novos gêneros e referências instrumentais a cada curva do registro. O axé encontra o pop na pegajosa Quero Ir Pra A Bahia Com Você, melodias acústicas à la Fleet Foxes se espalham ao fundo de Três da Tarde, a psicodelia enevoada de Foi Isto Um Homem, canção que parece ter saído de algum lugar no começo dos anos 1970. Como um típico registro de estreia, sempre curioso, cada música presente no interior do trabalho se abre para provar de novas sonoridades.

Com masterização assumida pelo veterano Arthur Joly e produção dividida entre os integrantes da banda, o álbum detalha o esforço do quinteto em se reinventar a cada nova composição. Décadas de influências que se amarram de forma propositadamente irregular, por vezes confusa e instável como o segundo ato do disco acaba indicando. Um imenso cardápio de ritmos, referências tortas e instantes de maior instabilidade que fazem da audição do registro um exercício movido pela incerteza.

 

Quarup (2016, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Carne Doce, Barro e Matheus Brant
Ouça: O Mensageiro, Pedra Rara e Quero Ir Pra A Bahia Com Você

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.