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Críticas

Holger

: "Relações Premiadas"

Ano: 2018

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Terno Rei e Raça

Ouça: Tudo Vai Mudar e Se Não Der Mais

8.0
8.0

Resenha: “Relações Premiadas”, Holger

Ano: 2018

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Terno Rei e Raça

Ouça: Tudo Vai Mudar e Se Não Der Mais

/ Por: Cleber Facchi 20/11/2018

Quem há tempos acompanha o trabalho da Holger sabe que cada novo álbum de estúdio produzido pelo grupo paulistano serve de passagem para um novo universo criativo. Do som tropical que marca as canções do colorido Sunga (2010), passando pelo rock ensolarado de Ilhabela (2012) ao flerte com o pop no homônimo registro de 2014, sobram instantes de profunda ruptura e transformação estética. Um permanente desvendar da própria identidade artística da banda, conceito que se reflete nas canções de Relações Premiadas (2018, Balaclava Records).

Quarto álbum de estúdio na carreira do quinteto paulistano, o sucessor do bom Sexualidade e Repressão EP (2016) funciona como um misto de regresso e fino exercício de renovação por parte do grupo — hoje formado pelos músicos Marcelo Altenfelder (Pata), Pedro Bruno (Pepe), Bernardo Rolla, Marcelo Vogelaar (Tché) e Charles Tixier. Entre versos sóbrios e canções guiadas pela temática do enfrentamento, guitarras carregadas de efeitos apontam para o primeiro registro autoral da banda, o EP Green Valley (2008), como um resgate do rock colossal e permanente diálogo da banda com o trabalho de estrangeiros como Broken Social Scene e Wolf Parade.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Tudo Vai Mudar. Primeira composição do disco a ser apresentada ao público, a canção ganha forma aos poucos, detalhando versos tão dolorosos quanto libertadores. “Todo esse desespero / Eu só sei que vai passar / Tudo em seu tempo / Tudo bate no peito / Tudo vai mudar“, cresce a letra da canção enquanto guitarras e batidas fortes convidam o ouvinte a se perder em um labirinto de sensações.

A mesma entrega ecoa com naturalidade logo na abertura do disco, em Não Posso Aceitar. São guitarras e vozes que se entrelaçam sem ordem aparente, indicando parte da estrutura torta que serve de sustento à obra. Instantes em que o quinteto paulistano encolhe e cresce de forma propositadamente disforme, estranha, ponto de partida para a composição de músicas como Não Vou Me Distrair e Se Não Der Mais, essa última, maior a cada nova audição. Mesmo a faixa de encerramento do álbum, Difícil Pra Você, mantém firme o caráter enérgico que inaugura o registro.

Nos poucos momentos em que os integrantes da banda se permitem respirar dentro de estúdio, canções marcadas pelo cuidado na montagem dos arranjos, batidas e vozes. É o caso de Preciso Dormir, música que resgata a essência de faixas como Caribbean Nights e Transfinite, porém, dentro de uma atmosfera suja, urbana. Guitarras melódicas e instantes de profunda leveza, direcionamento que se reflete com naturalidade em composições como Perdizes, fragmento que mais se aproxima do som produzido pela banda nos dois últimos álbuns de inéditas.

Produto das ideias e experiências recentes de cada integrante da banda, Relações Premiadas amplia criativamente tudo aquilo que vem sendo testado pelo quinteto paulistano desde o início da carreira. São pequenas conexões criativas e variações instrumentais que reconfiguram diferentes fases, sonoridades e obras assinadas pelo grupo em mais de uma década de atuação. Um misto de passado e presente, reverência e consolidação estética, proposta que faz de cada fragmento do presente disco um objeto de evidente destaque.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.