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Críticas

Yves Tumor

: "Safe in the Hands of Love"

Ano: 2018

Selo: Warp

Gênero: Experimental, Art Rock, Alternativa

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e TV On The Radio

Ouça: Honesty e Noid

8.8
8.8

Resenha: “Safe in the Hands of Love”, Yves Tumor

Ano: 2018

Selo: Warp

Gênero: Experimental, Art Rock, Alternativa

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e TV On The Radio

Ouça: Honesty e Noid

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2018

Em estúdio, Yves Tumor nunca pareceu seguir uma estrutura muito convencional. Prova disso está em toda a sequência de obras que vem sendo produzidas pelo cantor, compositor e multi-instrumentista nos últimos anos. Trabalhos de essência experimental, como When Man Fails (2016), Serpent Music (2016) e Experiencing the Deposit of Faith (2017), em que o artista norte-americano utiliza de elementos do R&B, pop e música eletrônica para revelar ao público um material guiado pelo aspecto torto dos arranjos, melodias e vozes. Mesmo simples colaborações, como o remix produzido para The Altar, de Alice Glass, parecem pensadas para jogar com a experiência do ouvinte, mudando de direção a todo instante.

Lançado de surpresa, Safe in the Hands of Love (2018, Warp) talvez seja o registro em que todas essas ideias são melhor organizadas e exploradas por Tumor dentro de estúdio. Pensado em unidade, cada composição do disco representa uma fração da obra, direcionamento que convida o ouvinte a se perder em um cenário tão turbulento (Let the Lioness in You Flow Freely), quanto acolhedor e sensível (Economy of Freedom). Ideias que reforçam o interesse do artista em explorar todas as brechas do próprio trabalho.

Palatável quando próximo dos último registros de Tumor, principalmente o abstrato Experiencing the Deposit of Faith, Safe in the Hands of Love mostra a capacidade do artista em transitar pelo pop sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra menor ou pouco interessante. Exemplo disso está em Noid, composição escolhida para apresentar o disco e um ato de profunda transformação dentro da curta discografia do músico. “Você já olhou para fora? / Estou com medo da minha vida / Eles não confiam em nós / Eu não faço parte da matança“, canta enquanto a base psicodélica da canção encolhe e cresce a todo instante, lembrando um encontro entre The Avalanches e o Petite Noir do álbum La Vie Est Belle (2015).

Mesmo quando prova de um som não-comercial, Tumor parece magicamente capaz de hipnotizar o ouvinte, efeito da profunda sensibilidade dos versos. É o caso da poesia romântica que invade a eletrônica Honesty (“Eu acabei de te conhecer / Mas eu não posso viver sem você, não“), música que parece saída de algum disco do Aphex Twin, ou mesmo o R&B abafado de Licking an Orchid, colaboração com James K que reflete a completa entrega do músico (“Alguns chamam de dor / Alguns chamam de tortura / Amor, eu gosto disso / Por favor, volte para casa / Eu juro que te amo muito / Ninguém pode te abraçar“).

De fato, poucas vezes antes Tumor pareceu tão vulnerável, melancólico e, naturalmente, íntimo do ouvinte quanto em Safe in the Hands of Love. Difícil não se identificar com os versos de Lifetime (“Não consigo respirar, juro / É tortura / E eu sinto falta dos meus irmãos“), Recognizing the Enemy (“Você parece tão diferente / Você parece com outra pessoa / Isso machuca muito / Sabendo que eu não pude ajudar / Remova a parte de mim / Dentro do meu próprio inferno“) e All the Love We Have Now (“Desculpa por todo o amor que temos agora“). Canções em que o artista transforma as próprias desilusões em música.

Claro que essa busca por um som menos experimental não interfere na produção de faixas que parecem dialogar com os antigos trabalhos de Yves Tumor. É o caso de Hope in Suffering (Escaping Oblivion & Overcoming Powerlessness), colaboração com Puce Mary e Oxhy que utiliza de uma base essencialmente ruidosa e invasiva, sufocando o ouvinte a cada novo fragmento instrumental e poético. Um som torto, delirante, como um contraponto ao romantismo sensível que cresce ao longo da obra. Instante em que o músico joga com a própria monstruosidade, forçando o ouvinte a se perder em uma obra completamente incerta.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.