Resenha: “Scorpio”, Serge Erege

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2016

Artista: Serge Erege
Gênero: Eletrônica, Indie, Alternativa
Acesse: https://www.facebook.com/sergeerege/

Fotos: Murillo José

Serge Erege precisa apenas da inaugural Harmony para introduzir o ouvinte ao ambiente temático que se espalha entre as canções de Scorpio (2016, Ganzá / Skol Music). Primeiro registro em estúdio do cantor e produtor piauiense, o trabalho que conta com lançamento pelo selo Ganzá — o mesmo de coletivos como Aldo e The Drone Lovers —, mostra o esforço do artista em visitar o passado de forma autoral, sempre curioso, replicando experiências, conceitos e melodias típicas da década de 1980.

Entre experimentos, composições já conhecidas — como Rhythm of The Day — e uma série de registros produzidos de forma independente pelo artista nos últimos oito anos, o nascimento de um trabalho que conversa com o passado, incorporando diferentes obras, cenas e referências musicais. Um precioso exercício criativo, fruto do completo isolamento de Erege, porém, completo com a direção artística e mixagem do colaborador Dudu Marote — produtor que já trabalhou com nomes como Skank e Pato Fu.

Livre de possíveis comparações ao trabalho desenvolvido por outros artistas brasileiros, em um sentido próprio, Erege estabelece em cada faixa ao longo do disco um perfeito diálogo com o som produzido por diferentes representantes da cena estrangeira. Difícil não lembrar de músicas recentes do How To Dress Well ao ouvir o canto dramático Someone Handsome; atravessando a cortina de sintetizadores em Blossom Blooming Veils, a mesma lisergia de Neon Indian e Washed Out.

Em uma atmosfera melancólica, soturna, como atravessar uma pista de dança nos instantes finais de uma festa, Scorpio acolhe, sufoca e perturba durante toda sua execução. No interior do trabalho, composições movidas pela completa exposição dos sentimentos (Looking For Love), versos marcados pela dor (Keep On Losing) e breves alucinações românticas (Someone Handsome). Fragmentos e reflexões de um indivíduo angustiado – Erege ou mesmo o próprio ouvinte.

Interessante perceber que mesmo mergulhado nesse ambiente intimista, Scorpio está longe de parecer um registro exaustivo, doloroso de forma excessiva. Em um intervalo de apenas 40 minutos, tempo de duração da obra, Erege faz de cada composição uma delicada ponte para a faixa seguinte, resultando na construção de um registro essencialmente dinâmico. Sintetizadores hipnóticos, batidas carregadas de efeitos e melodias pegajosas que se estendem da inaugural Harmony ao último verso de I Wonder.

Dentro desse cenário particular, o músico acaba criando pequenas brechas para a rápida passagem de alguns colaboradores. Além de Marote, o álbum ainda conta com a participação de Marcela Vale (Mahmundi) e Gui Held, dupla responsável pelas guitarras que marcam a faixa de abertura do trabalho. No restante da obra, a completa interferência e entrega sentimental de Erege, personagem central em cada uma das canções que recheiam o disco.

 

Scorpio (2016, Ganzá / Skol Music)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Jaloo, Mahmundi e Washed Out
Ouça: Blossom Blooming Veils, Harmony e Someone Handsome

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.