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Críticas

Séculos Apaixonados

: "Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância"

Ano: 2018

Selo: Balaclava Records

Gênero: Dream Pop, Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Catavento, Bike e Mac DeMarco

Ouça: O Dramin da Hora do Lobo e Faça um Pedido

8.3
8.3

Resenha: “Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância”, Séculos Apaixonados

Ano: 2018

Selo: Balaclava Records

Gênero: Dream Pop, Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Catavento, Bike e Mac DeMarco

Ouça: O Dramin da Hora do Lobo e Faça um Pedido

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2018

A nostálgica viagem instrumental da Séculos Apaixonados pelo pop/rock dos anos anos 1980 parece longe de chegar ao fim. Terceiro álbum de estúdio do grupo carioca, Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância (2018, Balaclava Records) convida o ouvinte a explorar um território à meia luz, impregnado pelo cheiro de perfume barato, móveis fora de época e cortinas empoeiradas, como um antigo quarto de motel à beira da estrada. Canções embriagadas pela tristeza, crises existencialistas e conflitos internos do eu lírico, como uma fuga do romantismo torto originalmente apresentado pelo grupo no debute Roupa Linda, Figura Fantasmagórica (2014).

Deliciosamente estranho, como tudo aquilo que Gabriel Guerra (voz, guitarra, baixo e teclados), Arthur Braganti (voz e teclados), Lucas de Paiva (voz, piano e teclados), Felipe Vellozo (baixo) e Lucas Freire (bateria) vem produzindo nos últimos anos, o sucessor do ótimo O Ministério da Colocação (2016) assume certo distanciamento em relação ao material pulsante produzido pela banda há dois anos. Trata-se de uma obra contida, mas não menos complexa e hipnótica, como se o quinteto carioca jogasse com a inserção de pequenos detalhes.

Exemplo disso está na sétima faixa do disco, o pop atmosférico de O Dramin da Hora do Lobo. Enquanto a voz de Guerra se espelha em meio a versos enigmáticos, pinceladas instrumentais ampliam os limites da canção. São sintetizadores jazzísticos, batidas abafadas e ruídos eletrônicos que se espalham sem pressa, costurando a canção. O mesmo preciosismo delirante se reflete na inaugural Hoje é o nosso aniversário, música guiada pela força quase sentimental dos pianos, como se cada nota servisse de complemento aos versos claustrofóbicos que, delicadamente, invadem a composição.

De fato, poucas vezes antes um registro produzido pela Séculos Apaixonados pareceu tão apurado musicalmente. Canções mergulhadas em incontáveis camadas instrumentais, como fragmentos extraídos de diferentes épocas e referências particulares compartilhadas por cada integrante da banda. Não por acaso, este é o trabalho em que os integrantes da banda mais se revezam na composição dos versos e vozes que recheiam o disco. Enquanto Arthur Braganti assume a curiosa Eu Sou Seu Papai Noel, música que poderia ter sido gravada por Ritchie nos anos 1980, Lucas de Paiva ganha destaque na ótima Faça um Pedido, canção de essência radiofônica que emula o mesmo pop psicodélico de artistas como Unknown Mortal Orchestra.

No restante da obra, a poesia misteriosa e fina execução instrumental de Guerra. Criações como a melancólica Velho e Incrédulo Ciclo, A Condição do Amor e O Que Está Acontecendo? em que o músico convida o ouvinte a se perder em um território de pequenas incertezas, ampliando parte da atmosfera triste detalhada há poucos meses, durante o lançamento do climático Wagner (2018), último registro autoral em carreira solo. Um permanente ziguezaguear de ideias que transporta o ouvinte para diferentes cenários.

Concebido em um intervalo de mais de um ano, Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância mostra não apenas a contínua evolução do quinteto carioca, como a incerteza que parecia orientar o trabalho do grupo no momento em que foi concebido. “Entre 2016 e hoje em dia, a gente criou uma ideia de que nossa música é tão insignificante, tão insignificante, que a gente meio que se sobrepõem a qualquer cenário pelo fato de a gente ter expectativas esdrúxulas“, explicou em entrevista à Vice. Um permanente estágio de amargura e sobriedade que se reflete na forma como fragmento poético é apresentado ao público, resultando na construção de uma obra tão confusa quanto curiosa e envolvente.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.