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Críticas

King Krule

: "The Ooz"

Ano: 2017

Selo: XL / True Panther Sounds

Gênero: Rock Alternativo, Pós-Punk, Jazz

Para quem gosta de: Mac DeMarco e Ariel Pink

Ouça: Half Man Half Shark e Dum Surfer

8.8
8.8

Resenha: “The Ooz”, King Krule

Ano: 2017

Selo: XL / True Panther Sounds

Gênero: Rock Alternativo, Pós-Punk, Jazz

Para quem gosta de: Mac DeMarco e Ariel Pink

Ouça: Half Man Half Shark e Dum Surfer

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2017

Em um intervalo de apenas cinco anos, Archy Ivan Marshall foi do personagem obscuro que produzia músicas caseiras sob o título de Zoo Kid para um dos artistas mais interessantes da cena inglesa. Oficialmente apresentado ao público durante o lançamento de 6 Feet Beneath the Moon (2013), já como King Krule, o cantor e compositor britânico fez da colagem de rimos – jazz, pós-punk, Hip-Hop e eletrônica –, o principal componente para a formação de uma estranha, ainda que curiosa, identidade musical. Transformação que atinge melhor resultado nas canções do terceiro álbum de inéditas, The Ooz (2017, XL / True Panther Sounds).

Produto direto das inquietações e experimentos acumulados pelo artista desde a produção do antecessor A New Place 2 Drown (2015), trabalho entregue ao público sob o título de Archy Marshall, o registro de 19 faixas e pouco mais de 60 minutos de duração passeia por entre épocas, possibilidades e diferentes estilos musicais sem necessariamente buscar conforto em um conceito específico. Trata-se apenas de uma obra que joga com os instantes, experimental, costurando retalhos instrumentais e poéticos de forma propositadamente torta.

Não por acaso, Marshall fez de Czech One, 11º faixa do disco, a canção escolhida para anunciar o trabalho há poucos meses. Inaugurada pela lenta sobreposição de sintetizadores, a música consumida pelo lirismo misterioso dos versos – “Onde homens minúsculos foram absorvidos / Por questionar o céu / Para quando e onde as estrelas foram formadas“–, sutilmente se perde em meio a entalhes jazzísticos, melodias etéreas e ruídos minuciosos, como um indicativo do trilha seguida pelo artista, conceito também evidente nas iniciais Biscuit Town e The Locomotive.

Em uma medida própria de tempo, Marshall passeia pelo interior da obra confessando algumas de suas principais inspirações enquanto versos românticos e existencialistas se espalham de forma vagarosa, sem pressa. Difícil não lembrar dos primeiros anos de Morrissey em carreira solo ou mesmo da obra de veteranos do jazz estadunidense, caso de Chet Baker. Surgem ainda ambientações soturnas que dialogam de forma curiosa com a recente fase do Mount Kimbie, projeto que há tempos conta com a colaboração de King Krule. Um verdadeiro mosaico de peças cinzas, espalhadas sem ordem aparente, por vezes confusas.

Climático quando próximo do material apresentado em 6 Feet Beneath the Moon, vide músicas como Logos e Sublunay, faixas que transportam o ouvinte para um típico universo dos clubes de jazz, The Ooz não oculta instantes de maior aceleração e forte ruptura instrumental. Perfeita representação disso está no surf-punk-lo-fi de Dum Surfer, música que soa como uma explosão do som acumulado pelo músico no restante da obra. O mesmo som ruidoso cresce no ritmo acelerado de VidualEmergency Blimp e, principalmente, na estrutura caótica de Half Man Half Shark, faixa que bagunça grande parte das referências do músico britânico.

Pontuado pela inserção de composições caseiras, caso da atmosférica A Slide In (New Drugs), vinhetas e versos declamados, como nas duas metades de Bermondsey Bosom, além de ambientações eletrônicas que expandem o universo detalhado em A New Place 2 Drown, como em The Cadet LeapsoThe Ooz carrega na incerteza o principal componente para o natural crescimento da obra. Livre de possíveis regras, cada composição detalhada pelo músico inglês se transforma em um verdadeiro objeto de destaque, como se o ouvinte fosse convidado a se perder em um domínio marcado pela permanente inquietação e fuga de King Krule.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.