King Krule
Indie/Experimental/Alternative
http://kingkrule.co.uk/
Por: Cleber Facchi
Maturidade é algo que sempre foi posto à prova no que tange a obra de Archy Marshall. Desde que começou a chamar a atenção da imprensa britânica – em 2010, quando ainda se apresentava como Zoo Kid e tinha apenas 16 anos -, o jovem compositor fez dos versos tortos e da poesia desconsertante um princípio para uma obra de beleza inimitável. Sob a alcunha de King Krule, o músico foi ainda mais longe. Transformou confissões possivelmente tolas de um adolescente e um produto típico de um adulto, veterano quiçá, esforço criativo (e sempre confessional) que alicerça a estrutura de 6 Feet Beneath the Moon (2013, XL), álbum de estreia e a comprovação de que Marshall ainda tem muito a oferecer.
Distante de qualquer exposição óbvia ou percurso facilitador ao ouvinte iniciante, Krule transforma a presente obra em um objeto de experimento constante. Quem espera por um possível riff fácil, vocal grudento ou qualquer emanação melódica, típica do Indie Rock britânico, vai se decepcionar. Tão logo Easy Easy inaugura o disco, vozes inexatas e texturas orgânicas crescem pela obra em um percurso intencionalmente complexo. Tudo parece fluir como uma manifestação da mente e das angústias do músico, logo, tão rápida é a fuga ou o aprofundar dos pensamentos, o mesmo efeito tende a guiar o rumo das composições.
Com vozes fragmentadas entre o canto e as rimas, Krule assume um esforço autêntico no que define o crescimento poético das faixas. Basta Neptune Estate para perceber isso. Aproveitando de samples, loops estilizados e uma lírica que parece construída em pequenas doses, o músico rompe com qualquer previsibilidade, efeito necessário para a colisão sonora que impulsiona o crescimento do disco até a última música. Na contramão de quem parece intencionado a agarrar uma fatia cada vez maior do público, o britânico parece atraído pelo oposto, utilizando desse suposto enclausuramento poético/musical como uma forma de capturar o ouvinte.
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Profundo interessado na obra de veteranos do Jazz estadunidense, ao mesmo tempo em que parece resgatar marcas específicas do Hip-Hop da década de 1990, Krule traz na multiplicidade de colagens sonoras um componente fundamental. Ora Morrissey, ora De La Soul, ora Fela Kuti, ora Mark E. Smith, o disco exclui as regras, o que força o ouvinte a buscar por um novo sustento a cada faixa. Se as guitarras de A Lizard State tendem ao rock, então Will I Come brinca com uma versão deturpada do R&B, incerteza que se arrasta de forma curiosa até o último instante do álbum. Todavia, é preciso observar que mesmo na inexatidão do registro, o exagero se faz inexistente, mantendo no tracejado invisível uma guia que se estende do começo ao fecho da obra.
Dentro desse turbilhão de conceitos e reviravoltas sonoras, Krule, provocador como é, sabe também como presentear o ouvinte, fazendo uso de faixas “mais simples”. É o caso do refrão espontâneo de Boarder Line, as batidas cativantes de Foreign 2 ou mesmo a bossa nova desfigurada de The Krockadile. Outras como Will I Come fornecem até bases climáticas de aceitação rápida, uma versão fragmentada da própria obra recente de Jamie XX. Entretanto, a beleza do álbum está na provocação, e é isso que o britânico mantém como premissa, trazendo em cada faixa um instante de ruptura.
Uma fuga de tendências. Mesmo sem o comprometimento em garantir respostas, composições vendáveis ou qualquer facilidade ao ouvinte, King Krule estranhamente assume em 6 Feet Beneath the Moon um retrato tão honesto dos próprios sofrimentos, que mesmo complexo, não custa e hipnotizar. Quase um rascunho no meio de tantos registros de forte acabamento comercial, o álbum é, ao lado de obras recentes – como Modern Vampires Of The City do Vampire Weekend ou mesmo Overgrown de James Blake -, a prova de que a beleza de um grande disco não está plasticidade que o envolve, mas no quão desafiador ele consegue ser.
6 Feet Beneath the Moon (2013, XL)
Nota: 8.3
Para quem gosta de: James Blake, Mac Demarco e Majical Cloudz
Ouça: Will I Come, Boarder Line e A Lizard State
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.