Resenha: “Will”, Julianna Barwick

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2016

Artista: Julianna Barwick
Gênero: Experimental, Ambient, Dream Pop
Acesse: http://www.juliannabarwick.com/

 

É impressionante a forma como Julianna Barwick parece explorar um universo completamente novo a cada registro de inéditas. Do som “florestal” que marca o primeiro trabalho da cantora, The Magic Place, lançado em 2011, passando pelas melodias inebriantes de Nepenthe, obra de 2013, cada álbum assinado pela musicista norte-americana se revela de forma sutil ao ouvinte, convidado a experimentar o delicado conjunto de vozes e melodias orquestradas de forma sempre detalhista pela compositora.

Em Will (2016, Dead Oceans), primeiro trabalho desde o curioso Rosabi EP (2014), obra que serviu para apresentar a marca de cerveja da cantora, um delicado recomeço. De essência experimental, o álbum assume um leve distanciamento em relação aos dois últimos registros de Barwick, revelando ao público um catálogo de sintetizadores climáticos, o uso controlado de arranjos orquestrais e composições assinadas em parceria com diferentes nomes da cena norte-americana.

Trabalho mais “instável” de toda a discografia de Barwick, o registro de apenas nove faixas mostra o esforço da cantora em explorar novos territórios a cada curva do disco. Primeira canção a ser apresentada ao público, Nebula talvez funcione como um indicativo do material que invade o restante do disco. Ainda que a voz angelical da artista se faça presente do primeiro ao último ato da composição, está no uso do sintetizador o principal componente da canção, uma espécie de ponte para a New Age dos anos 1970.

Quarta faixa do disco, Same, parceria com o músico Thomas Arsenault, do projeto canadense Mas Ysa, é outra composição que reforça a transformação de Barwick dentro do presente disco. São quase cinco minutos em que a voz da cantora se dissolve como uma delicada peça instrumental, colidindo lentamente com a soma de harmonias eletrônicas assinadas pelo parceiro de estúdio. Uma versão futurística do mesmo material apresentado há cinco anos em The Magic Place.

A mesma relação com o uso de temas eletrônicos volta a se repetir no interior da derradeira See Know. Faixa que mais se distancia de toda a obra de Barwick, a composição de base psicodélica não apenas posiciona a voz da cantora em um curioso segundo plano, rompendo com a proposta dos primeiros trabalhos de estúdio, como ainda apresenta ao ouvinte a pouco convencional inserção de batidas e outros elementos percussivos.

Por vezes íntima do trabalho proposto por artistas como Grouper (Beached), Julia Holter (Someway) e até mesmo de nomes como o produtor Tim Hecker (Wist), Julinna Barwick faz de Will um ensaio experimental, como um caminho torto dentro da própria carreira. Entre faixas que carregam a essência da musicista – caso de St. Apolonia e Big Hollow –, a busca declarada por um novo conjunto de ideias e possibilidades sempre curiosas.

 

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Will (2016, Dead Oceans)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Grouper, Mas Ysa e Julia Holter
Ouça: Same, Nebula e See Know

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.