Ano: 2022
Selo: Because Music
Gênero: R&B, Pop
Para quem gosta de: Arca e Charli XCX
Ouça: Firefly e Come For Me
Ano: 2022
Selo: Because Music
Gênero: R&B, Pop
Para quem gosta de: Arca e Charli XCX
Ouça: Firefly e Come For Me
Com influências que vão do experimentalismo de Aphex Twin à Björk, do rap inglês ao som intimista de veteranos como Massive Attack e Moloko, Blane Muise, a Shygirl, nunca parece interessada em seguir por vias convencionais. E isso fica bastante evidente em toda a série de composições que tem sido reveladas pela artista londrina ao longo da última década. São canções que transitam por entre estilos de forma sempre fragmentada, torta, dialogam criativamente com nomes como Arca, FKA Twigs e Mura Masa, porém, preservando o que parece ser um direcionamento estético e lírico bastante característico.
Vem justamente dessa combinação de elementos e permanente busca pela própria identidade artística o estímulo para o primeiro álbum de Shygirl em carreira solo, Nymph (2022, Because Music). Menos urgente em relação ao material entregue nos últimos trabalhos da artista, como o intenso Alias EP (2020), de onde vieram composições como Freak, o registro desacelera, porém, cresce na forma como a cantora/rapper britânica se aprofunda na construção de faixas que destacam a vulnerabilidade dos temas, proposta que parece pensada para estreitar relações e dialogar de forma sensível com uma parcela maior de ouvintes.
“Meu único desejo é ver seu corpo sobre mim / Meu único desejo é sentir você ondulando sob mim“, dispara logo nos minutos iniciais do disco, em Come For Me, música que reforça a permanente sensação de entrega vivida pela artista durante toda a execução do material. São composições que tratam sobre romances passageiros, sexo e momentos de maior melancolia. Instantes em que Shygirl utiliza dos próprios desejos para seduzir e capturar a atenção do público, conceito que se reflete até os minutos finais do trabalho, na eletrônica reducionista de Wildfire. “Sonho com seu toque / Estou tão perdida”, confessa.
Mesmo quando acelera, como na já conhecida Firefly, prevalece o forte aspecto sentimental e entrega da artista durante toda a execução da faixa. “Acho que preciso ouvir a verdade desta vez / Você me deixou esperando uma mentira“, canta. A própria Nike, em que destaca a construção das rimas, funciona como uma boa representação desse resultado. De fato, tão logo tem início, em Woe, fica bastante evidente o esforço de Shygirl em se revelar por completo para o ouvinte. “Quando você vai ver o meu lado / Eu posso ter tudo, mas nunca estou satisfeita“, detalha em meio a ambientações etéreas e batidas sempre calculadas.
Interessante que tamanha vulnerabilidade no processo de construção dos versos parta justamente de uma obra marcada pelo forte aspecto colaborativo. Do momento em que tem início, na já citada Woe, passando por músicas como Coochie (A Bedtime Story) e a delicada Honey, cada fragmento do disco gira em torno do criativo diálogo de Shygirl com nomes importantes como BloodPop, Vegyn, Danny L Harle e Noah Goldstein. Nada que diminua a participação de velhos colaboradores, como Sega Bodega, com quem já havia trabalhado em estúdio durante o lançamento de faixas como BDE, parceria com o rapper slowthai.
Dessa forma, Shygirl faz de Nymph uma extensão natural dos antigos trabalhos, porém, deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos. Mesmo que poucas composições pareçam capazes de igualar a fluidez e potência criativa explícita em Cleo, Slime e demais faixas que alavancaram a carreira da artista nos últimos anos, difícil não se surpreender com o repertório e capacidade da compositora em transitar por entre estilos durante toda a execução do material. São canções que vão de um canto a outro de forma sempre versátil, mas que em nenhum momento diminuem controle criativo da própria realizadora.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.