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Crítica

Camera Obscura

: "Look To The East, Look To The West"

Ano: 2024

Selo: Merge

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Belle and Sebastian e Jens Lekman

Ouça: We're Going to Make It in a Man's World e Denon

8.0
8.0

Camera Obscura: “Look To The East, Look To The West”

Ano: 2024

Selo: Merge

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Belle and Sebastian e Jens Lekman

Ouça: We're Going to Make It in a Man's World e Denon

/ Por: Cleber Facchi 05/06/2024

Poucas coisas são tão satisfatórias quanto reencontrar um artista depois de um longo período de hiato e perceber que ele continua tão interessante quanto da última vez que você o escutou. No caso do grupo sueco Camera Obscura, foram onze anos até que o projeto encabeçado por Tracyanne Campbell, Gavin Dunbar, Kenny McKeeve, Lee Thomson e Donna Maciocia retornasse com Look To The East, Look To The West (2024, Merge), sexto álbum de estúdio da banda que já contabiliza quase três décadas de carreira.

E esse longo período de espera tem um motivo. No meio da turnê de Desire Lines (2013), trabalho que contou com a colaboração de nomes importantes como Neko Case e Jim James (My Morning Jacket), o grupo se viu forçado a encerrar suas apresentações para que a tecladista Carey Lander, que estava com a banda desde o início dos anos 2000, pudesse se tratar de um câncer nos ossos. A artista não resistiu ao tratamento e veio a falecer em 2015, levando o Camera Obscura a mergulhar em um longo período de luto.

Agora, passado esse momento de dor que ainda foi ampliado pela pandemia de Covid-19, a banda retorna de maneira radiante, porém, preservando o lirismo agridoce que fez o grupo conhecido nos anos 1990. São composições que partem de experiências mundanas, personagens e histórias reais que se completam pelo sempre meticuloso tratamento dado aos arranjos. É como um contrastante jogo de sensações, conceito que embala a experiência do ouvinte até os momentos finais do trabalho, na crescente faixa-título do registro.

Descendo para o rio e para o sol / Para sentar com um velho amigo meu / John, você pode me dizer quem você se tornou? / Porque eu penso em você com frequência e sorrio“, canta Campbell em Denon, música em que referencia o antigo companheiro de banda, o músico John Henderson, e ainda combina passado e presente em meio a arranjos caprichados que atravessam o pop dos anos 1960 para mergulhar no soul da década de 1970. Uma riqueza de ideias poucas vezes antes vista mesmo na brilhante discografia da banda.

Do solo de guitarra em Only a Dream, passando pelas harmonias de vozes e riqueza dos arranjos logo na introdutória Liberty Print, tudo parece trabalhado com incontestável esmero. Não se trata de algo inédito no repertório da banda, visto que muitas das canções evocam obras como Let’s Get Out of This Country (2006) e My Maudlin Career (2009), porém, é impossível não se emocionar com cada mínimo acréscimo instrumental do quinteto. E não são apenas as melodias cantaroláveis que capturam a atenção do ouvinte.

Durante toda a execução do trabalho, Campbell e seus companheiros de banda se aventuram em temas pertinentes, como a reflexão feminista em We’re Going to Make It in a Man’s World e os temas políticos que sutilmente afloram na faixa-título. Nada que inviabilize a construção de doces canções românticas, como Big Love e Pop Goes Pop. São diferentes temáticas, narrativas e inquietações que fazem de Look To The East, Look To The West um dos mais belos repositórios de sensações já produzidos pelo Camera Obscura.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.