Depois de se entregar ao conforto em Care (2016), Tom Krell decidiu investir em um repertório ainda mais caótico com a chegada do posterior The Anteroom (2018). Livre do R&B atmosférico que parecia orientar as primeiras criações do How To Dress Well, o músico norte-americano passou a explorar um material marcado polo uso de distorções ruidosas, quebras e efeitos desconcertantes. Era como a passagem para um espaço aberto às experimentações, conceito que se repete em I Am Toward You (2024, Sargent House).

Primeiro álbum de inéditas do produtor estadunidense em seis anos, o registro de onze faixas segue de onde Krell parou no registro anterior, porém, partindo de uma abordagem equilibrada e que estabelece pequenos acenos para material entregue nos primeiros álbuns do artista. Exemplo disso fica mais do que evidente em canções como A Faint Glow Through a Window of Thin Bone (That’s How My Fate is Shown), com seus pianos, efeitos e vozes reducionistas que parecem saídos do introdutório Love Remains (2010).

Claro que essa sutil mudança de abordagem em nada impede que Krell se aventure na construção de faixas ainda íntimas do experimentalismo explícito em The Anteroom. A própria Crypt Sustain, com suas guitarras em primeiro plano, funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco menos de quatro minutos em que o artista se aventura em um território tão convidativo quanto instável, criando incontáveis mudanças de direção que tornam a experiência de ouvir o material totalmente fascinante.

Entretanto, é quando alcança um ponto de equilíbrio entre os primeiros trabalhos e a fase mais recente que Krell garante ao público algumas de suas melhores criações. Uma das primeiras composições do registro a serem reveladas pelo músico, No Light talvez seja o exemplo mais representativo disso. Enquanto os versos funcionam como um mergulho na mente do artista, bases ruidosas, típicas do repertório de The Anteroom, contrastam com o som pop consolidado nos essenciais Total Loss (2012) e “What Is This Heart?” (2014).

São momentos de maior experimentação, porém, pontuados pela habitual leveza que revelou o trabalho do compositor há mais de uma década. Mais do que isso, I Am Toward You é um exercício criativo que se abre para a chegada de diferentes colaboradores. Conhecido pelo processo de criação solitário, Krell decidiu inverter essa lógica e fazer do presente disco a passagem para nomes como Joel Ford e outros artistas que auxiliam o produtor a ampliar composições como Nothingprayer e Gas Station Against Blackened Hillside.

Para além de todas essas reformulações sonoras e estéticas, I Am Toward You chama a atenção pela forma como Krell mergulha ainda mais fundo nas próprias emoções. Nascido de um processo de transformação pessoal vivido pelo artista nos últimos anos, o trabalho deixa de lado os temas românticos de outrora para tratar sobre questões existenciais. Canções que orbitam um universo particular e talvez hermético em excesso, porém, hipnóticas e capazes de atrair a atenção do ouvinte durante toda a execução do material.

Ouça também: