Ano: 2024
Selo: Foco na Missão
Gênero: Rap, MPB
Para quem gosta de: Emicida e Rincon Sapiência
Ouça: Cairo, Depois do Depois e Levante
Ano: 2024
Selo: Foco na Missão
Gênero: Rap, MPB
Para quem gosta de: Emicida e Rincon Sapiência
Ouça: Cairo, Depois do Depois e Levante
Ainda que as rimas estejam presentes durante toda a execução do álbum, Portal (2024, Foco Na Missão) é menos um disco de rap e muito mais um diálogo aprofundado de Rashid com a MPB. Quinto e mais recente projeto de estúdio do artista paulistano, o registro de nove composições talvez seja um dos mais complexos e musicalmente bem elaborados em se tratando da construção dos arranjos e temas instrumentais, porém, tropeça justamente na mais importante ferramenta de trabalho do rapper: o desenvolvimento dos versos.
Livre do caráter documental de outros exemplares do rap, Portal ecoa muito mais um exercício de estilo, com Rashid interpretando diferentes personagens e narrativas poéticas ao longo do material. Entretanto, oposto ao lançamento anterior, Movimento Rápido Dos Olhos (2022), em que utilizava de espelhamentos com a realidade para tratar de uma história fictícia, aqui percebemos a construção de canções isoladas, por vezes estéreis, como se pensadas apenas para atender aos diálogos sonoros propostos pelo rapper.
Exemplo disso fica bastante evidente em Sem Norte, um rap romântico totalmente insosso, como esses que o Spotify tenta empurrar depois que a composição que você escolheu chega ao fim. A própria presença de nomes conhecidos do pop rock nacional, como Lagum e Ruxell, torna isso ainda mais explícito, reforçando o caráter algorítmico da obra. Ainda que o nome de Rashid apareça estampado na capa do álbum, Portal se projeta como um disco sem identidade na maior parte do tempo, como se pertencesse a qualquer um.
Outro problema bastante perceptível de Portal diz respeito ao andamento rítmico da obra. Salve exceções, como a ensolarada Levante, canção que abre passagem para a baiana Melly, tudo se desenvolve a partir de um mesmo conjunto de ideias e bases que, embora executadas com capricho, custam a avançar, tornando a experiência do ouvinte arrastada. Até o sorridente Péricles parece sugado para dentro desse ambiente moroso em Um Tom de Azul. É como esperar por um momento de ruptura criativa, mas que nunca chega.
Ainda assim, boas composições podem ser percebidas durante toda a execução do material. É o caso de Depois do Depois, música que destaca a construção das batidas, preserva o refinamento dado aos arranjos e ainda cresce na formação dos versos que propõem uma delicada reflexão sobre o afastamento de dois grandes amigos e se completam pela voz de Lenine. A própria homenagem ao filho, em Cairo, é outra que encanta pela sensibilidade das rimas, revelando uma vulnerabilidade imperceptível no restante da obra.
Mesmo entre altos e baixos, prevalece em Portal o esforço do artista em não se repetir criativamente. Ainda que siga por um percurso irregular, esbarrando em composições arrastadas ou que custam a impressionar, notável é o distanciamento do presente registro em relação aos trabalhos que o antecedem. E é exatamente isso que Rashid tem feito desde o início da década passada, investindo em uma seleção de obras que, para o bem ou para o mal, continuam a distanciar criativamente o rapper de todo e qualquer traço de conforto.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.