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Crítica

Bruna Mendez

: "Nem Tudo É Amor"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tuyo e Bebé

Ouça: Temporal, Risco e Imenso Mar

7.3
7.3

Bruna Mendez: “Nem Tudo É Amor”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tuyo e Bebé

Ouça: Temporal, Risco e Imenso Mar

/ Por: Cleber Facchi 08/10/2024

A Bruna Mendez de Nem Tudo É Amor (2024, Independente) já não é a mesma de Corpo Possível (2019) e muito menos a de O Mesmo Mar que Nega a Terra Cede à sua Calma (2016). E isso é ótimo. Em um contínuo processo de transformação, a cantora e compositora goiana tem feito de cada registro a passagem para um novo território criativo. São álbuns que seguem a trilha dos discos que os antecedem, porém, partindo de um sempre delicado processo de reformulação instrumental, poética, rítmica e principalmente emocional.

Terceiro e mais recente trabalho de estúdio da artista goiana, Nem Tudo É Amor talvez seja o registro que mais aproxima Mendez do pop, busca inspiração nos ritmos latinos, mas em nenhum momento diminui a força dos sentimentos que passeiam em meio a momentos de doce desejo e amargas separações. É como um permanente processo de simplificação dos versos, direcionamento que, pela primeira vez, expõe as verdadeiras intenções da compositora e ainda estreita laços com o ouvinte com uma naturalidade única.

Exemplo disso fica bastante evidente em Imenso Mar. Enquanto as batidas e bases deixam o R&B do disco anterior para mergulhar no funk carioca, versos expositivos tornam explícitos os desejos mais profundos da cantora. “E se eu te contar que quando você olha pra mim / Sinto como se o desejo fosse carne viva / Aquela vontade afiada que me corta”, cresce a letra da canção que ainda se abre para a chegada de Lay, uma das integrantes da banda Tuyo. E ela está longe de parecer a única composição do mesmo gênero.

Do momento em que tem início, em Eu Já Não Falo de Amor (Nem Quero Que Você Me Ame), Mendez se aventura na construção de faixas que deixam de lado o lirismo labiríntico de O Mesmo Mar que Nega a Terra Cede à sua Calma para investir na construção de um repertório essencialmente direto e até mesmo explícito. Composições que tratam sobre sexo e momentos de maior vulnerabilidade emocional com uma crueza poucas vezes antes percebida na obra da artista goiana, conceito que segue até os minutos finais.

Claro que isso não interfere na entrega de canções marcadas pela riqueza dos detalhes e uso de figuras de linguagem que engrandecem o repertório de Mendez. É o caso de Temporal, doce criação que escancara o desejo da artista goiana, porém, preservando a suavidade dos versos. “Lembra como é quente aqui / O jeito é a gente se molhar”, provoca. O próprio encontro com Bebé, em Risco, é outra que chama a atenção pela completa maciez dos elementos, como um contraponto necessário à euforia que move o restante do álbum.

Independente da direção percorrida por Mendez e seus colaboradores no decorrer do material, entre eles, o produtor Lucs Romero, Nem Tudo É Amor é uma obra que pouco acrescenta tematicamente ao trabalho da artista goiana. São canções que, em menor ou maior intensidade, se aprofundam nos mesmos conceitos, inseguranças e questões sentimentais do disco anterior. É como um novo olhar para um velho catálogo de ideias, proposta fascinante para novas audiências, mas que talvez custa a impressionar antigos ouvintes.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.