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Crítica

Adriano Cintra

: "O Palhaço"

Ano: 2022

Selo: Independe

Gênero: Indie, Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: Thiago Pethit e YMA

Ouça: O Palhaço e Um Dia E Nada

7.6
7.6

Adriano Cintra: “O Palhaço”

Ano: 2022

Selo: Independe

Gênero: Indie, Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: Thiago Pethit e YMA

Ouça: O Palhaço e Um Dia E Nada

/ Por: Cleber Facchi 19/08/2022

Desde que deu vida ao primeiro álbum em carreira solo, Animal (2014), Adriano Cintra tem investido na produção de um repertório marcado pelo uso de pequenos contrastes. Enquanto a base de boa parte das canções convida o ouvinte a dançar, efeito direto do uso destacado das batidas e sintetizadores nostálgicos que evocam as criações do multi-instrumentista paulistano no Cansei de Ser Sexy, em se tratando dos versos, Cintra, que já colaborou com nomes como Marcelo Jeneci, Bruna Mendez e Tom Zé, se aprofunda em conflitos sentimentais. São composições marcadas pela dor e momentos de maior vulnerabilidade.

Mais recente lançamento de Cintra em carreira solo, O Palhaço (2022, Independente) é um bom exemplo desse resultado. Primeiro registro de inéditas produzido pelo cantor desde o repertório apresentado em Nine Times (2017), o trabalho concentra o que há de melhor e mais doloroso nas criações do artista. São canções que apontam para um passado ainda recente, fresco, mas que parecem pensadas para dialogar com todo e qualquer ouvinte. Um delicado exercício de entrega sentimental, estrutura que ultrapassa os limites dos versos e tende a consumir a fina tapeçaria instrumental tecida pelo músico ao longo da obra.

De longe eu assisto tudo / Faço tudo pra ninguém me notar / Cruzo os dedos, tenho medo / Apavorado eu me rendo“, detalha na introdutória Tudo Tão Estranho, música que evidencia as angústias de Cintra e ainda aponta a direção seguida pelo compositor ao longo do trabalho. Pouco menos de quatro minutos em que o artista traz de volta o pop retrô que fez dele conhecido no início dos anos 2000, porém, partindo de uma abordagem sutilmente transformada. São camadas instrumentais que surgem e desaparecem a todo instante, ampliando os limites da composição que soa como um passeio pela mente do próprio cantor.

Com todos esses elementos em mãos, Cintra abre passagem para uma de suas melhores composições, Um Dia e Nada. Em um intervalo de quase dez minutos de duração, o compositor detalha cenas, memórias e acontecimentos envolvendo o relacionamento entre duas pessoas. Instantes em que o artista parte da descoberta de um novo amor (“Você chamava e eu ia, eu ia / Era tudo tão diferente / Seria amor ou seria azia?“) à inevitabilidade do fim (“Era tudo muito diferente / Mas diferente perdeu a graça um dia“), proposta que tinge de forma bastante melancólica a experiência do ouvinte até os minutos finais da extensa criação.

Esse mesmo aspecto doloroso no processo de composição fica ainda mais evidente na própria faixa-título do disco. Se por um lado a base da canção parece requentada de outros registros assinados pelo artista, por outro, carrega nos versos a sobriedade e evidente amadurecimento de Cintra. “E um sorriso um tanto pálido / Tanta concessão / Acabou em depressão / De nada adiantou ser o diplomático“, reflete. É como uma interpretação ainda mais sensível de tudo aquilo que o músico tem explorado desde os primeiros registros em carreira solo, proposta que acaba servindo de passagem para a faixa seguinte, A Máquina.

Escolhida para o encerramento do trabalho, a canção, assim como o restante da obra, utiliza de uma abordagem minuciosa, sempre marcada pelo aspecto da aplicabilidade. São fragmentos poéticos que ora soam como observações sobre uma mesma personagem, ora ecoam como inquietações que escapam da mente do próprio artista. “Era como uma máquina / Não levava nada em consideração / Mantinha o plano em prática / Sabendo que seria tudo em vão“, detalha. Dessa forma, Cintra garante ao público um exercício criativo tão particular, quanto próximo do ouvinte e de suas interpretações. Um repertório enxuto, formado apenas quatro composições, mas que parece maior e mais impactante do que muitos registros inteiros.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.