Image
Crítica

Alice Caymmi

: "Imaculada"

Ano: 2021

Selo: Rainha dos Raios

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Gaby Amarantos

Ouça: Recíproco e Serpente

5.8
5.8

Alice Caymmi: “Imaculada”

Ano: 2021

Selo: Rainha dos Raios

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Gaby Amarantos

Ouça: Recíproco e Serpente

/ Por: Cleber Facchi 26/10/2021

Com exceção do material entregue no autointitulado registro de estreia, onde reina a temática marítima, e nas canções de Electra (2019), trabalho de essência teatral que conta com repertório concebido em parceria com DJ Zé Pedro, a obra de Alice Caymmi sempre foi marcada pela colorida pluralidade de ideias e referências. E isso fica bastante evidente não apenas nas faixas do brilhante Rainha dos Raios (2014), em que transita por entre estilos e resgata composições de forma sempre autoral, como nas criações do acessível Alice (2018), disco em que se entrega ao pop e estreita a relação com nomes como Pabllo Vittar.

Quinto e mais recente trabalho de estúdio da cantora, compositora e produtora carioca, Imaculada (2021, Rainha dos Raios) segue a trilha plural do repertório apresentado em Rainha dos Raios e Alice, porém, de forma ainda mais diversa e estranhamente confusa. São composições que parecem emular a estrutura de uma playlist no Spotify, alternando entre músicas que vão do trap ao brega, do funk ao rap em uma estranha tentativa de aproximação com alguns dos gêneros mais consumidos nas principais plataformas de streaming. Um ziguezaguear de ideias, ritmos, vozes e tendências que muda de direção a todo instante.

Síntese dessa estranha combinação de elementos acontece justamente na inusitada releitura de A Lenda da Luz da Lua. Originalmente adaptada pelo grupo paulistano Gaijin Sentai como música de abertura da animação de Sailor Moon, a faixa chama a atenção pelas decisões criativas pouco usuais de Caymmi, vide a excelente releitura de Princesa, de MC Marcinho, mas que acaba se perdendo em uma base totalmente genérica de funk. O mesmo acontece em Ninfomaníaca, encontro com Urias e Number Teddie que pouco acrescenta quando próxima de outras milhares de parcerias algorítmicas despejadas semanalmente.

Tudo é tratado de forma essencialmente previsível e superficial, direcionamento explícito na própria duração das faixas. São músicas que buscam se resolver em um intervalo de apenas dois minutos, estrutura que funciona no descompromisso de Batidão Tropical (2021) e outros registros ainda recentes, mas que ecoa de maneira apressada quando nos deparamos com a forte carga emocional impressa no disco. “Eu só penso em dizer que te amo e você não vê / Toda vez que você toca em mim / Eu só penso em você“, detalha em Recíproco, canção que sintetiza parte dessa vulnerabilidade explícita ao longo da obra.

De fato, sobrevive nos momentos em que mais se distancia dessa urgência a passagem para algumas das melhores canções do disco. É o caso da sequência formada por Confidente e pela faixa-título do álbum. Pouco mais de cinco minutos em que Caymmi preserva a essência do registro, porém, potencializa o uso da vozes e batidas pouco usuais, transportando o trabalho para um novo território criativo. A própria Serpente, mesmo seguindo uma estrutura similar aos demais lançamentos da Brabo Music, com quem colabora em estúdio, sustenta no uso dos sintetizadores e quebras conceituais um precioso ponto de transformação, conceito que se completa em Medusa, música que evoca nomes como Arca e Rosalía.

Independente dos rumos percorridos ao longo do trabalho e das decisões criativas tomadas por Caymmi, vide a caótica imagem de capa, registro de Giovanni Bianco, Imaculada mais uma vez reflete a capacidade da artista carioca em transitar por entre estilos, testar os próprios limites e estreitar a relação com diferentes colaboradores. Acompanhada de Vivian Kuczynski, co-produtora do disco, a cantora segue, para o bem ou para o mal, uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue no álbum anterior. Instantes em que se entrega ao pop e incorpora novos elementos de forma sempre particular.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.