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Crítica

Amaarae

: "Fountain Baby"

Ano: 2023

Selo: Interscope

Gênero: R&B, Afrobeats, Pop

Para quem gosta de: Kali Uchis e Ravyn Lenae

Ouça: Reckless & Sweet e Co-Star

8.4
8.4

Amaarae: “Fountain Baby”

Ano: 2023

Selo: Interscope

Gênero: R&B, Afrobeats, Pop

Para quem gosta de: Kali Uchis e Ravyn Lenae

Ouça: Reckless & Sweet e Co-Star

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2023

De Kali Uchis ao rapper Stormzy, de Janelle Monáe a Kaytranada, não foram poucos os artistas que nos últimos anos buscaram estreitar laços com Amaarae. E não poderia ser diferente. Com o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, The Angel You Don’t Know (2020), a cantora nova-iorquina que cresceu em Acra, capital de Gana, se transformou um dos nomes mais interessantes e cobiçados do cenário cultural africano. Dona de uma voz única e utilizando de uma colorida combinação de ritmos, a jovem parece ter conquistado um espaço que pertence somente à ela, feito reforçado em Fountain Baby (2023, Interscope).

Marcado pelo frescor das batidas e riqueza de detalhes durante toda a execução do material, Fountain Baby se revela aos poucos, porém, captura a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. Inaugurado em meio a arranjos de cordas que embalam a introdutória All My Love, o trabalho logo desemboca em uma doce combinação de elementos percussivos e versos sempre provocativos. “Me coma de um jeito lento e sutil / Você não quer provar? / Só para começar, paciência virtuística / Pegue porque você merece“, atiça em Angels in Tibet, composição que prepara o terreno para o que será entregue no restante da obra.

É como se Amaarae fosse de encontro ao mesmo território criativo de nomes como SZA e Ravyn Lenae, porém, partindo de uma abordagem essencialmente atualizada em que destaca a riqueza das batidas e fina tapeçaria instrumental do disco. Exemplo disso fica evidente em Big Steppa. Enquanto os versos mais uma vez reforçam a busca da artista pelo amor (“Ela nunca perguntou o que você quer / Ela não pode amar como eu / Se ela não disser ‘eu também’ / Eu preciso de você para mim também“), metais e guitarras sempre marcadas pelo suíngue se completam pela percussão que transita com destreza por entre estilos.

O mais interessante talvez seja perceber como esse minucioso processo de criação não é parte apenas de uma composição ou outra, mas de todo o repertório de Fountain Baby. Rodeada por um time seleto de colaboradores, Amaarae brinca com as possibilidades em estúdio. São canções que passeiam por diferentes ritmos do continente africano, porém, preservando elementos do pop europeu e o R&B norte-americano. O resultado desse processo está na entrega de faixas que continuam a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do disco, vide preciosidades como Reckless And Sweet e Co-Star.

Mesmo capaz de comunicar com uma parcela ainda maior de ouvintes, Amaarae evite a todo custo uma possível simplificação dos processos durante a produção de Fountain Baby. Assim como em The Angel You Don’t Know, a artista incorpora diferentes propostas criativas de forma a tensionar os limites da própria obra. Enquanto faixas como Counterfeit alcançam um ponto de equilíbrio entre o novo pop africano e as criações de Timbaland, outras, como Sex, Violence, Suicide, partem de uma abordagem atmosférica para destacar a completa urgência das guitarras que apontam para os primeiros trabalhos do Arctic Monkeys.

Dessa forma, Amaarae não apenas escapa de um repertório ancorado em conflitos sentimentais e temas há muito incorporados por diferentes artistas, inclusive ela mesma em The Angel You Don’t Know, como solidifica sua posição como uma dos nomes mais criativos e singulares do presente cenário. Enquanto conquista territórios paralelamente e busca dialogar com grandes nomes da indústria, vide a série de colaborações apresentadas nos últimos meses, a cantora reserva para o próprio trabalho uma coleção de composições marcadas pela pluralidade de estilos que concedem nova identidade e frescor à música pop.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.