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Crítica

Aya

: "Hexed"

Ano: 2025

Selo: Hyperdub

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Arca e SOPHIE

Ouça: Off To The Esso, Navel Gazer e Hexed

8.5
8.5

Aya: “Hexed”

Ano: 2025

Selo: Hyperdub

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Arca e SOPHIE

Ouça: Off To The Esso, Navel Gazer e Hexed

/ Por: Cleber Facchi 11/04/2025

A crueza explícita na imagem de capa de Hexed (2025, Hyperdub) é apenas uma fração de tudo aquilo que a produtora, cantora e compositora Aya Sinclair busca desenvolver no segundo e mais recente trabalho de estúdio da carreira. Composto durante um período de sobriedade, o registro funciona como um olhar para o passado recente, quando noites em claro movidas pelo consumo de cocaína orientavam a vida da artista.

Embora parta desse olhar sóbrio de Aya para o próprio passado, Hexed nunca soa de forma moralista. Pelo contrário, é bastante honesto com o ouvinte durante toda sua execução. Composições que, mesmo partindo de um direcionamento torto, assumem um sentido documental, revelando com crueza e completa ausência de encanto a realidade de produtores e artistas outros noturnos tragados para esse universo de excessos.

Eu costumava dizer alguma merda sobre um relógio parado / Enquanto o tempo escorregava pelas minhas mãos”, reflete na introdutória I Am The Pipe I Hit Myself With. São pouco mais de dois minutos em que Aya apresenta parte dos conceitos que serão incorporados ao longo do trabalho, porém, estabelece na intensa fragmentação dos elementos, ritmos, bases e vozes o estímulo para um registro que tende à desorientação.

É como um olhar da artista inglesa para o próprio passado, ainda que mantenha os pés firmes no presente. “Eu só quero dormir / Mas as videiras continuam subindo, serpenteando e descobrindo que eu estou muito fraca”, volta a refletir em The Names of Faggot Chav Boys, outra importante composição em que Aya parte de experiências pessoais para dialogar com o ouvinte. Frações poéticas que, a todo momento, se dividem entre cenas descritivas, narrativas imprecisas e estranhos fluxos de pensamento detalhados pela britânica.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na forma como a artista orienta os rumos de cada canção. Ruídos sintéticos, quebras e momentos de maior experimentação que vez ou outra esbarram na obra de SOPHIE e Arca, porém, partindo de uma abordagem ainda mais anárquica. Composições como Off To The Esso e Navel Gazer que arremessam o ouvinte de um canto a outro, sem qualquer chance de escapatória.

Mesmo que muitas dessas canções levem a becos sem saída, como se a artista ainda buscasse pela própria identidade, o que se percebe é a entrega de uma obra muito mais consistente e narrativamente complexa do que o material entregue no registro anterior, Im Hole (2021). Cada fragmento distorcido, batida ou voz contribui para a construção de um universo sonoro que reflete a turbulência interna de Aya. Um exercício talvez expositivo em excesso, mas essencial para mergulhar no caótico universo particular da produtora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.