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Crítica

Bad Bunny

: "Un Verano Sin Ti"

Ano: 2022

Selo: Rimas

Gênero: Reggaeton, Pop, R&B

Para quem gosta de: Rauw Alejandro e Jhay Cortez

Ouça: Ojitos Lindos, Otro Atardecer e Party

7.6
7.6

Bad Bunny: “Un Verano Sin Ti”

Ano: 2022

Selo: Rimas

Gênero: Reggaeton, Pop, R&B

Para quem gosta de: Rauw Alejandro e Jhay Cortez

Ouça: Ojitos Lindos, Otro Atardecer e Party

/ Por: Cleber Facchi 30/05/2022

O coração entristecido que estampa a colorida imagem de capa de Un Verano Sin Ti (2022, Rimas), quarto e mais recente trabalho de Bad Bunny em carreira solo, funciona como uma representação de tudo aquilo que o cantor e compositor porto-riquenho busca desenvolver ao longo da obra. Imerso em memórias de um passado ainda recente, o artista se concentra na produção de um repertório marcado pela desilusão. São momentos de maior vulnerabilidade, dor e entrega sentimental, como uma extensão do material apresentado há dois anos, durante o lançamento do confessional Yo Hago Lo Que Me da La Gana (2020).

A diferença em relação ao trabalho que revelou preciosidades como Vete e Pero Ya No está na forma como Benito Martínez, verdadeiro nome do artista, busca ampliar o próprio repertório e estreitar a relação com diferentes colaboradores. É o caso de Rauw Alejandro, outro importante personagem da cena porto-riquenha, com quem divide a dançante Party, e Jhay Cortez, parceiro em Tarot. Entretanto, é no inusitado aparecimento de nomes menores, como os conterrâneos do Buscabulla, em Andrea, que o registro realmente chama a atenção e transporta o som produzido por Bad Bunny para um novo território criativo.

Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais músicas do disco, a delicada Ojitos Lindos. Completa pela participação dos colombianos Liliana Saumet e Simón Mejía, do Bomba Estéreo, a faixa encanta pela construção dos versos e acabamento dado pela produção de Marco Masís, o Tainy, parceiro de Martínez durante toda a execução do material. “Com sua alma é a que eu conecto / Não se preocupe, não precisa ser perfeito / Aqui não há pecado e errar é bom / Os erros são prazeres, assim como todos os seus beijos“, cresce a letra da canção, sempre adornada pelo uso das batidas e metais.

Mesmo quando transita solitário pelo interior do álbum, Bad Bunny não economiza na entrega de boas composições. E isso fica bem representado em Yo No Soy Celoso. Enquanto a base da canção vai de encontro à bossa nova, conceito anteriormente testado na releitura de Garota de Ipanema, em Si Veo a Tu Mamá, os versos evidenciam o que há de mais doloroso nas criações do artista. São letras que tratam sobre a inevitabilidade da fim, saudade, desejo e a ânsia de encontrar um novo amor, proposta que tem sido explorada desde o introdutório X 100pre (2018), mas que ganha ainda mais destaque com o presente disco.

Nada que prejudique a construção de faixas marcadas pelo lirismo escapista e criativo diálogo de Bad Bunny com o pop. Canções como Tití Me Preguntó, La Corriente e a derradeira Callita que distanciam o álbum de um repertório puramente sofredor. A própria Después de la Playa, logo na abertura do disco utiliza de uma abordagem bastante curiosa. Instantes em o artista parte de uma base reducionista, ainda íntima dos antigos trabalhos, para mergulhar em um ambiente ensolarado, provando de elementos da música cubana. A mesma riqueza de detalhes fica bastante evidente em Otro Atardecer, bem-sucedida colaboração com as integrantes do grupo californiano The Marías e uma parcial fuga do restante da obra.

Pena que para cada boa composição que abastece o trabalho, Bad Bunny e seus parceiros garantem ao público uma sequência de outras faixas completamente esquecíveis. Assim como em Yo Hago Lo Que Me Da La Gana, o artista porto-riquenho se concentra na montagem de um repertório que se estende para além do necessário, sensação reforçada pela repetição de temas e estruturas rítmicas que pouco avançam criativamente. Dessa forma, mesmo canções de maior relevância acabam se perdendo ou passando despercebidas ao longo do disco, proposta que diminui o impacto e tende a desgastar a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.