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Crítica

Bat For Lashes

: "The Dream of Delphi"

Ano: 2024

Selo: Awal

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick e Julia Holter

Ouça: Home e The Dream of Delphi

7.3
7.3

Bat For Lashes: “The Dream of Delphi”

Ano: 2024

Selo: Awal

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick e Julia Holter

Ouça: Home e The Dream of Delphi

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2024

Ao longo da última década, Natasha Khan se especializou na produção de obras cada vez mais fechadas e sempre pautadas por uma temática bastante específica. Em The Bride (2016), por exemplo, a artista narra a história de uma noiva que perde o homem amado às vésperas da cerimônia de casamento. Já no trabalho seguinte, o nostálgico Lost Girls (2019), a compositora propõe uma viagem em direção ao próprio passado, resgatando memórias da infância, referências estéticas e toda a ambientação que marca a década de 1980.

Com a chegada de The Dream of Delphi (2024, Awal), sexto e mais recente álbum de estúdio como Bat For Lashes, Khan utiliza de uma abordagem ainda mais específica. Mesmo que o título do material e os temas incorporados no decorrer do trabalho façam referência aos mitos gregos do Oráculo de Delfos, o registro de dez composições funciona como uma delicada reflexão sobre o processo de maternidade vivido pela cantora nos últimos anos, além, claro, de um emocionante carta de amor dedicada à própria filha, Delphi.

Sua vida, um eco, minha querida / De tudo que está por vir / E sim, você é uma canção“, se derrete Khan em Letter To My Daughter, música que sintetiza parte dos temas que serão incorporados pela cantora ao longo do trabalho. São versos essencialmente curtos quando pensamos no aprofundamento proposto em obras como The Haunted Man (2012), porém, sempre precisos. Pequenas anotações mentais que a artista parece ter compilado nos momentos de afeto com a filha que nasceu no meio da pandemia de Covid-19.

Por conta dessa especificidade hermética no processo de composição, como a passagem para um universo particular compartilhado apenas por Khan e a própria filha, The Dream of Delphi acaba soando como uma obra quase inacessível em determinados momentos. São canções como Delphi Dancing e At Your Feet que talvez digam muito para a cantora, mas sejam incapazes de atrair o interesse do ouvinte. Mesmo a artista parece pouco interessada em facilitar esse processo quando pensamos na base instrumental do trabalho.

Diferente dos registros anteriores, como Two Suns (2009), com suas curvas, quebras e diferentes variações rítmicas, Khan se aprofunda na produção de um repertório minimalista e profundamente atmosférico. São composições marcadas pelo uso de sintetizadores e ambientações etéreas que ajudam a potencializar esse caráter onírico explícito no título do material. Das dez faixas que integram o disco, pelo menos quatro são puramente instrumentais, tornando ainda mais evidente esse aspecto contemplativo que orienta o álbum.

Ainda assim, Khan tem suas surpresas. Logo de cara, com a autointitulada canção de abertura, a cantora pode até partir de uma abordagem contida e atmosférica, mas que reserva para os momentos finais uma intensa combinação de batidas. A própria Home, mesmo utilizando de um acabamento quase esquelético, chama a atenção pela forma como a musicista dialoga com o pop de forma bastante efetiva, prova de que mesmo imersa em um ambiente particular, a artista em nenhum momento parece esquecer do público.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.