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Crítica

Bebé

: "Salve-se!"

Ano: 2024

Selo: Coala Records

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tuyo e Karen Francis

Ouça: Assome, Gelo e Eu Quero Viver

8.3
8.3

Bebé: “Salve-se!”

Ano: 2024

Selo: Coala Records

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tuyo e Karen Francis

Ouça: Assome, Gelo e Eu Quero Viver

/ Por: Cleber Facchi 31/05/2024

Mesmo longe de parecer uma iniciante quando, há três anos, deu vida ao autointitulado registro de estreia, difícil não pensar em Salve-se! (2024, Coala Records) como um claro exercício de amadurecimento vivido por Bebé. Da escolha dos temas, que se aprofundam em questões sexuais e conflitos típicos de uma jovem adulta, passando pela maior imposição das vozes e decisão em assumir a coprodução do trabalho, cada mínimo fragmento do material destaca a transformação pessoal e domínio criativo da compositora paulista.

Quem vai me salvar? A não ser eu mesmo”, questiona e responde logo nos minutos iniciais do trabalho, na atmosférica faixa-título, como um indicativo das certezas que movem o registro de dez faixas. São canções que continuam a orbitar um universo particular, sempre intimistas, porém, movidas por um desejo e força poucas vezes antes vista na obra da cantora que foi apresentada ao público durante sua participação no The Voice Kids Brasil, mas há muito parece distante da imagética frágil construída pelo programa da TV.

De cabeça pra baixo, Bebé agora reinterpreta o mundo à sua própria maneira. “Talvez meu corpo até possa derreter / Se sua temperatura me aguentar / Você até pode vir aqui me lamber / Mas vai grudar“, alerta na provocativa Gelo, música que sintetiza parte dos desejos e novas direções, pessoais e poéticas, que a artista busca explorar ao longo do trabalho. É como um mergulho na mente da cantora, livre de qualquer traço de censura, como uma evolução natural em relação ao fino repertório montado durante o lançamento anterior.

Nesse cenário marcado por regras próprias, Bebé aproveita ainda para estreitar laços com novos parceiros em estúdio. É o caso de Dinho Almeida, da banda goiana Boogarins, no pop fragmentado de Recado Dado. Quem também dá as caras é o rapper carioca BK, com quem já havia colaborado no álbum Icarus (2022), mas que aqui assume parte dos versos na ótima De Ponta Cabeça. Nada que diminua o impacto de velhos parceiros criativos, como o irmão e músico Felipe Salvego, além, claro, do produtor Sergio Machado Plim.

Exemplo disso fica bastante evidente no som estratosférico da derradeira Eu Quero Viver, composição em que surge rodeada por antigos colaboradores, estreita laços com as pistas e amplia consideravelmente os limites da obra. Mesmo canções como a reducionista Assome, música que mais se aproxima do repertório entregue no disco anterior, chama a atenção pelo maior refinamento dado aos arranjos e contínuo esforço de Bebé em se reinventar criativamente mesmo imersa em um território há muito dominado pela própria.

Claro que nesse esforço em ampliar os próprios horizontes, como no flerte com o funk, em Fiquei de Cara, passando pelo diálogo com a música latina, base de Novas Ideias / ¿Pq no Puedo?, Bebé acaba esbarrando em canções menos expressivas ou talvez ainda incompletas. São estruturas desconjuntadas, como esboços em formação, proposta que naturalmente desestabiliza o bom rendimento do trabalho, porém, fascina pelo esforço da compositora em não se acomodar dentro de uma única sonoridade, estética ou conceito criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.