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Crítica

BK

: "Icarus"

Ano: 2022

Selo: Gigantes

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Djonga, Sant e Emicida

Ouça: Continuação de Um Sonho e Em Nome Do Que Sinto

7.8
7.8

BK: “Icarus”

Ano: 2022

Selo: Gigantes

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Djonga, Sant e Emicida

Ouça: Continuação de Um Sonho e Em Nome Do Que Sinto

/ Por: Cleber Facchi 28/11/2022

Icarus (2022, Gigantes) é uma obra de transição. Quarto e mais recente álbum de Abebe Bikala, o BK, o trabalho parte das conquistas pessoais do rapper fluminense para celebrar o próprio passado e apontar a direção para o que ainda está por vir. Como o título indica, trata-se de uma perspectiva atualizada do Mito de Ícaro. Um delicado estudo sobre as ambições, fracassos e permanente busca do artista em escapar de um labirinto emocional e poético que vem sendo desenvolvido desde a estreia com Castelos & Ruínas (2016). Canções que partem de uma abordagem particular e autobiográfica, porém, sempre acessíveis.

Embora marcado pela forte homogeneidade, efeito direto da produção de JXNV$ em parte expressiva das canções, Icarus é um trabalho que se divide em dois blocos temáticos bastante característicos. O primeiro deles, inaugurado pela reducionista Luzes, diz respeito ao lado político e consequentemente raivoso do disco, ocupando toda a primeira metade do repertório. A própria Lugar na Mesa, excelente colaboração com L7NNON, funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco menos de três minutos em que a dupla discute repressão, crescimento, traumas e transformação pessoal de forma sempre impactante.

É como um regresso e natural continuação dos temas abordados nos antecessores Gigantes (2018) e O Líder Em Movimento (2020), direcionamento potencializado nas rimas de Foto Armado, canção que cresce na colaboração com Major RD. “Foto armado nos Melhores Amigos / Só selecionei quem tem treta comigo / Acho que ficou bem avisado / Nem precisa saber, deu pra entender o recado“, dispara. Claro que essa crueza impressa nos versos não interfere na construção de faixas capazes de romper com essa lógica, como na emocionante Continuação de Um Sonho, música que destaca o lirismo esperançoso do rapper.

Com todos esses elementos organizados no bloco inicial do trabalho, BK utiliza da porção seguinte para tratar de questões emocionais e momentos de maior vulnerabilidade. Não por acaso, o disco desacelera consideravelmente e o uso das vozes femininas surge de forma a contrastar com a poesia sóbria lançada pelo artista. O resultado desse processo está na entrega de músicas como Só Me Ligar, parceria com Julia Mestre, e Se Eu Não Lembrar, delicada colaboração com a cantora Marina Sena. Mesmo quando estreita relações com Luccas Carlos, em Músicas de Amor Nunca Mais, o resultado alcançado é bastante similar.

Embora consumido pela poesia monotemática, prevalece na porção seguinte do trabalho a entrega de um repertório marcado pelo evidente refinamento estético. Além de JXNV$, nomes como Sango e Nansy Silvvz assumem a produção do material, ampliando os limites da obra. E isso fica bem representado na sutileza de Em Nome Do Que Sinto. Enquanto a base da composição vai do R&B ao funk em uma abordagem sempre reducionista, Bebé, com quem BK divide a faixa, rompe com a lógica das outras convidadas que integram o disco e brinca com a construção das rimas. “No corpo, o amor parece livre, por dentro chora“, confessa.

Entre pequenas sutilezas e composições que naturalmente destacam a potência dos versos, BK garante a produção de um material talvez previsível do ponto de vista temático, mas não menos interessante. Como indicado durante toda a execução do disco, o artista parece ter alcançado um grau de compreensão da própria obra que garante consistência ao repertório mesmo nos momentos de maior instabilidade. Canções que sacrificam a surpresa explícita nos registros anteriores, porém, evidenciam o domínio criativo do compositor. É como se o rapper, diferente do personagem mitológico que concede título ao trabalho, partisse sempre de uma abordagem equilibrada. Nem tão alta, nem tão baixa, mas sempre em movimento.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.