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Crítica

Billie Eilish

: "Hit Me Hard And Soft"

Ano: 2024

Selo: Darkroom / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Olivia Rodrigo e Lana Del Rey

Ouça: Chihiro, Lunch e Birds of a Feather

7.6
7.6

Billie Eilish: “Hit Me Hard And Soft”

Ano: 2024

Selo: Darkroom / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Olivia Rodrigo e Lana Del Rey

Ouça: Chihiro, Lunch e Birds of a Feather

/ Por: Cleber Facchi 23/05/2024

Billie Eilish sempre lidou com os próprios sentimentos de forma bastante aberta, porém, nunca de maneira tão explícita quanto em Hit Me Hard And Soft (2024, Darkroom / Interscope). “Quando eu saio do palco, eu sou um pássaro em uma gaiola / Eu sou um cachorro em um canil / E você disse que eu era seu segredo“, canta logo nos minutos iniciais do trabalho, em Skinny, música que antecipa uma série de conflitos internos e relacionamentos instáveis que serão melhor incorporados pela cantora a cada nova música do registro.

Vem justamente desse forte aspecto expositivo e evidente entrega sentimental da cantora o grande charme do sucessor de Happier Than Ever (2021). São canções que se aprofundam na vida sexual, desejos e todas as transformações vividas pela artista desde que passou a verbalizar o interesse por pessoas do mesmo sexo. “Eu poderia comer aquela garota no almoço / Sim, ela dança na minha língua“, confessa em Skinny, música que torna o metafórico explícito, como um reforço o lirismo provocativo de Hit Me Hard And Soft.

E ela não é a única. A cada nova música, Eilish mergulha fundo nas próprias emoções, potencializando as dores, inquietações e sentimentos que tem sido trabalhados desde a estreia com When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019). São canções que, vez ou outra, esbarram em pequenas repetições temáticas, vide a extensa pauta romântica e os relacionamentos conflitantes que reaparecem ao longo do material, porém, dotados de uma sensibilidade poucas vezes antes vista nas criações da artista norte-americana.

O problema é que esse maior refinamento na construção dos versos e evidente entrega de Eilish durante toda a execução da obra não parece ser acompanhado pela produção Finneas, irmão e principal parceiro criativo da cantora. Assim como nos registros anteriores, o produtor se sustenta na construção de batidas reducionistas, uma linha de baixo levemente destacada e pequenas distorções na voz da irmã. É como um limitado conjunto de ideias, proposta que aproxima e ao mesmo tempo restringe o repertório do trabalho.

Não por acaso, quanto mais se distancia desse resultado, mais Finneas fornece à irmã o estímulo para que o material cresça e rompa com qualquer traço de conforto. Exemplo disso fica bastante evidente em Birds of a Feather, um pop retrô que lembra a parceria entre Sky Ferreira, Blood Orange e Ariel Rechtshaid em Everything Is Embarrassing. O mesmo se percebe em L’Amour de Ma Vie, música em dois movimentos que deixa de lado o ritmo arrastado dos minutos iniciais para crescer com entusiasmo nos momentos finais.

Ainda que esses pontos luminosos estejam restritos a momentos específicos do trabalho, Hit Me Hard And Soft mantém sua excelência mesmo nos instantes de evidente conforto. Difícil passar por canções como a reducionista Chihiro e não ser prontamente seduzido pela letra que tanto referencia a animação de Hayao Miyazaki, como serve de passagem para um mundo próprio da cantora. É como um delicado exercício de exposição emocional que mais uma vez destaca a sensibilidade poética e permanente entrega de Eilish.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.