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Ano: 2023

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Armand Hammer

Ouça: FaceTime, Year Zero e Soft Landing

8.6
8.6

Billy Woods & Kenny Segal: “Maps”

Ano: 2023

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Armand Hammer

Ouça: FaceTime, Year Zero e Soft Landing

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2023

Mesmo com o recente anúncio da Organização Mundial da Saúde sobre o fim do estado de emergência envolvendo a Pandemia de Covid-19 e a normalização vivida no último ano, o mundo e a forma como nos relacionamos em sociedade mudou. Vem justamente desse olhar crítico para um novo modelo de vida e as emoções experienciados durante o período de reabertura o estímulo para o rico repertório de Maps (2023, Backwoodz Studioz). Segundo registro da parceria entre o rapper Billy Woods e o produtor Kenny Segal, o trabalho combina cenas, personagens, histórias e sentimentos enquanto passeia por diferentes cenários.

Crianças, você e seus amigos vão ter que começar de novo / Não há nada que você possa fazer com a gente, estamos fodidos“, rima em Year Zero, música em que parte desse cenário pós-apocalíptico para refletir sobre a vida em comunidade, violência, evolução e negritude, conceitos anteriormente testados por Woods em Aethiopes (2022), porém, partindo de um precioso senso de renovação. São Frações poéticas marcadas pela forte sensação de movimento, como um delirante fluxo de pensamento que busca detalhar parte das inquietações do artista desde que botou o pé na estrada para excursionar nos últimos meses.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pela fluidez dos elementos, Woods e seu parceiro de produção aproveitam para estreitar laços com novos e velhos colaboradores. Exemplo disso acontece em FaceTime. Primeira música do disco a ser apresentada ao público, a faixa, completa pela participação de Samuel T. Herring, vocalista doFuture Islands, sintetiza de maneira eficiente a riqueza de detalhes que abastece o trabalho. Outra que chama a atenção é Baby Steps, composição em que parte de uma poesia descritiva, sempre regida pelo conceito de movimento, e ainda abre passagem para E L U C I D e Benjamin Booker.

Nada que diminua o impacto de composições assumidas integralmente por Woods e Segal. Parceiros desde o colaborativo Hiding Places (2019), a dupla assina em conjunto algumas das principais faixas do disco. É o caso de Soft Landing, delirante criação ambientada no cenário restrito de um avião, mas que utiliza desse componente temático para mergulhar em citações à Nina Simone e momentos de maior lisergia que contrastam com a sobriedade dos temas. O mesmo acontece em Houdini, canção em que rima sobre viagens físicas e mentais, direcionamento que se completa pelo uso calculado das batidas e bases tortas.

De fato, tão importante quanto a construção das rimas é o minucioso processo criativo desempenhado por Segal durante toda a execução do trabalho. Assim como em Hiding Places, o produtor se aventura na construção de faixas marcadas por ambientações jazzísticas e momentos de maior experimentação, conceito reforçado em composições como Bad Dreams Are Only Dreams. A diferença está na forma como o artista amplia significativamente o próprio campo de atuação, como em Babylon By Bus, música que chama a atenção pelo uso de trechos de #2 (Radiator), de Aphex Twin, além de outras surpresa ao longo da obra.

Com toda essa riqueza de informações, diferentes parceiros criativos e fragmentos instrumentais que apontam para os mais variados campos da música, Maps se revela como uma obra que exige relativo esforço e imersão por parte do ouvinte, porém, o recompensa durante toda sua execução. Ainda que a metade final do disco se estenda para além do necessário, esbarrando em estruturas e temáticas previamente apresentadas pela dupla, tudo é trabalhado de maneira tão cuidadosa que é difícil não se deixar conduzir pelo material que faz de cada faixa um exercício de transição para a música seguinte. Ajustem suas poltronas e apertem os cintos, a viagem sonora de Woods e Segal está apenas começando.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.