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Crítica

Céu

: "Um Gosto de Sol"

Ano: 2021

Selo: Urban Jungle

Gênero: MPB, Pop Rock, Samba

Para quem gosta de: Tulipa Ruiz e Karina Buhr

Ouça: Deixa Acontecer e I Don't Know

6.0
6.0

Céu: “Um Gosto de Sol”

Ano: 2021

Selo: Urban Jungle

Gênero: MPB, Pop Rock, Samba

Para quem gosta de: Tulipa Ruiz e Karina Buhr

Ouça: Deixa Acontecer e I Don't Know

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2021

Desde o início da carreira, as versões sempre fizeram parte do trabalho de Céu. Da releitura de Concrete Jungle, de Bob Marley, logo no primeiro álbum de estúdio, passando por preciosidades como Rosa, Menina Rosa, de Jorge Ben Jor, à completa imprevisibilidade de Chico Buarque Song, música originalmente lançada pelos paulistanos da Fellini no início dos anos 1990, sobram composições que ganham novo tratamento na voz e sentimentos impressos pela artista. Mas será que um disco inteiro dedicado ao ofício de intérprete teria o mesmo impacto criativo e refinamento de outros fragmentos espalhados ao longo da carreira?

A resposta para essa pergunta está no repertório de Um Gosto de Sal (2021, Urban Jungle). Primeiro álbum de versões da artista paulistana, o trabalho chama a atenção pela capacidade da cantora em transitar por entre estilos, décadas e tendências de forma sempre versátil, jogando com a experiência do ouvinte. São canções que passeiam por diferentes campos da música brasileira e internacional em um precioso exercício de confissão referencial. Instantes em que Céu vai de registro essenciais, como Ao Romper da Aurora, de Ismael Silva, à obra de estrangeiros, caso de Jimi Hendrix, em May This Be Love.

Vem justamente desse curiosos olhar para fora do país algumas das melhores e mais inusitadas releituras do trabalho. É o caso de I Don’t Know. Originalmente lançada como parte do álbum Hello Nasty (1998), do trio norte-americano Beastie Boys, a faixa preserva muito da versão original, porém, ganha ainda mais destaque na delicadeza dos arranjos e vozes da artista paulistana. O mesmo acontece em Feelings, música composta pelo cantor e compositor brasileiro Morris Albert, mas que se transformou em um sucesso internacional na década de 1970, e agora retorna em uma interpretação deliciosamente empoeirada.

Nada que diminua o impacto das canções inteiramente cantadas em português. É o caso da própria faixa-título do álbum, um dos clássicos de Milton Nascimento no cultuado Clube da Esquina (1972), mas que agora ganha novo e delicado tratamento na voz de Céu. Outra que encanta pela colorida combinação de vozes é Teimosa. Criação de Antonio Carlos e Jacofi, a faixa que se completa pela participação de Russo Passapusso, discípulo da dupla baiana, seduz pela leveza dos elementos e costuras rítmicas que parecem apontar para os primeiros trabalhos da artista. Mesmo Pode Esperar, próxima ao fechamento do registro, surpreende pela força da interpretação e sonoridade abrasiva, dialogando de forma bastante sensível com o material entregue por Alcione há mais de quatro décadas, no excelente Alerta Geral (1978).

Parte desse resultado vem da escolha da artista e do parceiro de produção, Pupillo Oliveira (Nação Zumbi, Gal Costa), em utilizar de uma base essencialmente acústica, potencializando o uso das vozes. E isso fica bastante evidente na já citada Ao Romper da Aurora, música que não apenas evidencia a entrega da cantora paulistana, como aponta a direção seguida durante toda a execução do trabalho. Nada que impossibilite a formação de faixas como Deixa Acontecer, composição que rompe com o pagode romântico do Grupo Revelação para mergulhar em um R&B que se completa pela participação do rapper Emicida.

Se por um lado essa base acústica encanta nos minutos iniciais, por outro, tende a consumir o trabalho e diminui consideravelmente o impacto de diversas composições ao longo da obra. É o caso de Criminal, música que pouco acrescenta quando próxima do material apresentado por Fiona Apple. O mesmo acontece na previsível releitura de Chega Mais, criação doe Rita Lee e Roberto de Carvalho que perde totalmente o frescor explícito na versão lançada em 1979. Instantes em que a artista busca se distanciar dos temas eletrônicos incorporados em Tropix (2016) e APKÁ! (2019), porém, acaba tropeçando em uma série de repetições e fórmulas pouco interessantes, proposta que parece requentada da recente Acústico (2021), registro em que adapta alguns de seus maiores sucessos dentro do mesmo enquadramento econômico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.