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Crítica

Courtney Barnett

: "Things Take Time, Take Time"

Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Mom+Pop / Marathon Artists

Para quem gosta de: Julia Jacklin, Kurt Vile e Snail Mail

Ouça: Before You Gotta Go e Rae Street

7.5
7.5

Courtney Barnett: “Things Take Time, Take Time”

Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Mom+Pop / Marathon Artists

Para quem gosta de: Julia Jacklin, Kurt Vile e Snail Mail

Ouça: Before You Gotta Go e Rae Street

/ Por: Cleber Facchi 26/11/2021

Livre da urgência explícita nos primeiros registros autorais, Courtney Barnett parece investir em um repertório cada vez mais contido, mas não menos expressivo. E isso fica bastante evidente nas canções de Things Take Time, Take Time (2021, Mom+Pop / Marathon Artists). Sequência ao material entregue em Tell Me How You Really Feel (2018), o trabalho produzido em parceria com Stella Mozgawa (Warpaint, Cate Le Bon) concentra uma série de elementos bastante característicos da cantora e compositora australiana, como os poemas semi-declamados e descritivos, porém, aponta para novas direções criativas.

Concebido durante o período de isolamento social, o trabalho de essência reducionista parece menos centrado nos relatos cotidianos de Barnett e muito mais voltado aos traumas, medos e conflitos pessoais vividos pela compositora de Melbourne. “Antes que você vá / Eu queria que você soubesse / Você está sempre na minha mente“, confessa em Before You Gotta Go, música que parte de um relacionamento conturbado, porém, sintetiza parte do lirismo agridoce e permanente sensação de abandono que parece orientar a construção do registro até a composição de encerramento do álbum, a melancólica Oh the Night.

É como se Barnett, distante do material apresentado em Tell Me How You Really Feel, fosse de encontro ao mesmo território criativo desbravado em Lotta Sea Lice (2017), bem-sucedido encontro com o cantor e compositor norte-americano Kurt Vile. São canções que ganham forma em uma medida própria de tempo, valorizando cada mínimo fragmento detalhado pela artista ao longo do trabalho. “E não tenho medo de altura / Talvez eu só esteja com medo de cair“, canta em Here’s the Thing, perfeita representação desse material que se revela ao público em pequenas doses, sem pressa, estreitando a relação com o ouvinte.

Uma vez imersa nesse ambiente de formas reducionistas, Barnett aproveita para brincar com as possibilidades, incorporar uma série de novos elementos e aprimorar outros. Exemplo disso fica bastante evidente em Turning Green. Enquanto os versos refletem um dos momentos de maior acolhimento do registro – “Posso colocar você na linha? / Quero que me conte tudo / Conte-me tudo / Nunca te vi tão feliz” –, batidas cíclicas e camadas de guitarras transportam o som produzido pela artista para um novo território. São ecos de krautrock e momentos de maior experimentação que sutilmente ampliam os limites da obra.

Nada que prejudique e formação de músicas ensolaradas, ainda íntimas do material entregue pela cantora em Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (2015). E isso fica bastante evidente na já conhecida Write A List of Things To Look Forward To. Entre guitarras timbrísticas e batidas cuidadosamente encaixadas por Mozgawa, a faixa nasce como um respiro momentâneo, distanciando o ouvinte do restante da obra. Mesmo a letra da canção traz de volta esse olhar curioso e sempre contestador de Barnett sobre a nossa sociedade. “Fizemos o nosso melhor, mas o que isso realmente significa?“, questiona.

É justamente nesse ponto em que fica bastante evidente a diferença do impacto causado nas canções reveladas nos dois primeiros registros da cantora e o material que ganha forma em Things Take Time, Take Time. Não se trata de um trabalho menor, porém, menos significativo e imediato quando próximo de tudo aquilo que foi apresentado em Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit e Tell Me How You Really Feel. São composições que orbitam um universo bastante particular de Barnett, proposta que talvez custe a impressionar o ouvinte mais apressado, mas que invariavelmente tende a crescer a cada nova audição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.