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Crítica

Crime Caqui

: "Atenta"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Papisa, YMA e Terno Rei

Ouça: Feito pra Durar e Mais Quente que o Sol

7.6
7.6

Crime Caqui: “Atenta”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Papisa, YMA e Terno Rei

Ouça: Feito pra Durar e Mais Quente que o Sol

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2022

De Terno Rei a eliminadorzinho, de Raça a Viratempo, sobram nomes importantes da cena paulistana que fizeram dos próprios sentimentos o estímulo para a produção de obras marcadas pela vulnerabilidade dos temas, porém, ambientadas em um contexto puramente masculino. Satisfatório perceber nas canções de Atenta (2022, Independente), primeiro álbum da Crime Caqui, a passagem para uma obra que partilha de uma linguagem e identidade sonora bastante similar, mas que ganha novo tratamento no fino repertório que se aprofunda em conflitos sentimentais, inquietações e experiências voltadas ao universo feminino.

E não poderia ser diferente. Para a produção do trabalho, o grupo formado por Fernanda Fontolan (bateria), May Manão (guitarras), Yolanda Oliva (baixo) e Larissa Lobo (guitarras), decidiu colaborar em estúdio com um time majoritariamente composto por mulheres. Da produção de Mônica Agena, artista que já colaborou com nomes como Fernanda Takai e Emicida, passando pela mixagem de Alejandra Luciani, uma das metades do Carabobina, sobram diferentes olhares, ouvidos e interferências que concedem ao disco uma atmosfera plural. São composições nascidas do precioso cruzamento de informações, porém, centradas em totalidade nas memórias e vivências sutilmente detalhadas por cada integrante da banda.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra contemplativa e tímida, por vezes em excesso, mas que parece capaz de capturar a atenção do público sem grandes dificuldades. De essência labiríntica, como tudo aquilo que o quarteto tem produzido desde os primeiros registros autorais, vide músicas como Somos Demais e Your Forehead, Atenta convida o ouvinte a se perder em um cenário onde sonhos e desilusões se confundem a todo instante. Um lento, porém, continuo desvendar de sensações, proposta que acaba se refletindo de forma bastante sensível até a composição de encerramento do trabalho, Violeta.

E isso fica bem representado na construção cadenciada de Feito Pra Durar. São pouco mais de cinco minutos em que Oliva, autora da faixa, parte de um romance lésbico para tratar sobre o desejo ardente (“Eu quis te lamber com meu fogo / Eu quis te beber feito água“) e a inevitabilidade do fim (“Eu sei, não foi feito pra durar“) de forma sempre particular. A própria base da canção, adornada pelo uso de sintetizadores cósmicos e guitarras carregadas de efeitos, parece potencializar esse resultado. Instantes em que o grupo se permite consumir pela saudade, mesmo seguindo em frente, apontando a direção para o ouvinte.

Esse mesmo lirismo atencioso e evidente entrega no processo de composição acaba se refletindo em outros momentos ao longo do álbum. Composições como a hipnótica Mais Quente que o Sol e Violeta em que o quarteto alcança um perceptível estágio de amadurecimento, conceito que vai da construção das letras ao tratamento dado aos arranjos. Claro que isso não interfere na produção de faixas como as emergenciais Quartzo Aranha e Estrago. São canções que, mesmo dotadas de um vocal desajustado e menor polimento, encantam pelos versos que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da obra.

Dentro desse espaço marcado pela sobreposição de ideias, ritmos e sentimentos, Atenta se revela ao público como um típico registro de estreia. Longe de garantir possíveis respostas, o quarteto parece interessado em testar os próprios limites dentro de estúdio, proposta que resulta na construção de faixas tão inusitadas, como a instrumental Gostosinha, quanto na entrega de músicas fadadas ao esquecimento, caso de Chatty Kathy. É como um acumulo natural de tudo aquilo que o grupo tem explorado desde os primeiros registros autorais, mas que deixa o caminho aberto para um universo de novas possibilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.