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Crítica

Curumin

: "Pedra de Selva"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB, Eletrônica

Para quem gosta de: Anelis Assumpção e Céu

Ouça: Flecha do Dedo e Paixão Faixa Preta

8.0
8.0

Curumin: “Pedra de Selva”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB, Eletrônica

Para quem gosta de: Anelis Assumpção e Céu

Ouça: Flecha do Dedo e Paixão Faixa Preta

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2024

Sete anos e uma pandemia separam Curumin do material entregue no antecessor Boca (2017) das canções que embalam o recém-lançado Pedra de Selva (2024, Independente). Mesmo bastante ativo durante todo esse período e acumulando colaborações com nomes como Arnaldo Antunes, Livia Nery, BaianaSystem e Rashid, sobrevive nas composições do presente álbum uma melhor organização das ideias e experiências vividas pelo cantor, compositor e produtor paulistano durante essa jornada particular e também coletiva.

Fortemente inspirado pelo período de isolamento social, ainda que nunca limitado a ele, o registro de 17 canções funciona como um passeio pela mente e alma do artista paulistano. São composições que tratam sobre temas existenciais, buscam pelo distanciamento dos centros urbanos e a reconexão com a natureza. “Eu vou aprender com a pedra / E deixar ir com o rio”, canta em Água Fria Em Pedra Quente, música que trata sobre esse estado de transformação que rege o disco e sutilmente embala a experiência do ouvinte.

Entre metáforas e jogos de palavras, Curumin substitui elementos simples do cotidiano por componentes orgânicos. São aromas e sabores de frutas, a maciez da terra, a textura áspera da casca das árvores, tudo isso ajuda a compor o colorido universo criativo proposto pelo artista. Exemplo disso fica bastante evidente na quase erótica Mexerica Mineira, uma doce alegoria aos momentos de prazer. “Aquela moleza depois do almoço / Ah eu chupo até o caroço / Mais um gomo mais um pedaço / E o lábio canta no melaço”, provoca.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem contemplativa, como em Flecha do Dedo e Paixão Faixa Preta, essa última composta em parceria com o rapper Rico Dalasam, Curumin não economiza nos detalhes e na vulnerabilidade explícita nos versos. É como se, pela primeira vez em mais de duas décadas de carreira, o artista se revelasse por completo para o ouvinte. São composições talvez menos imediatas em relação ao material entregue em discos como Japan Pop Show (2008) e Arrocha (2012), porém sempre fascinantes.

Dotado de um lirismo atencioso, Pedra de Selva mantém esse mesmo capricho na elaboração dos arranjos. Mesmo que muitos dos elementos incorporados ao longo do trabalho tenham sido aplicados com maior originalidade e riqueza de detalhes em outros registros do paulistano, difícil não se deixar conduzir pela maciez das melodias e uso sempre contrastante das batidas. Da pulsação de Pisa e Pira à delicadeza de Jacarandá, música que evoca Guilherme Arantes, tudo encanta pela precisão e domínio técnico do artista.

Apesar de todo esse cuidado no processo de composição do trabalho, Pedra de Selva acaba pecando pelos excessos. São interlúdios, mensagens de voz e todo um descabido atravessamento de informações que não apenas estende o registro para além do necessário, como tumultua a experiência do ouvinte e impede que algumas das canções sejam apreciadas com o merecido destaque. Rodeado por novos e antigos parceiros criativos, como Ava Rocha (Água Fria e Pedra Quente) e Iara Rennó (Tempo de Sal), Curumin garante ao público uma obra extensa, talvez inchada, porém gratificante e transformadora na maior parte do tempo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.