Image
Crítica

Daphni

: "Cherry"

Ano: 2022

Selo: Jialong

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Four Tet e Floating Points

Ouça: Clavicle e Cloudy

7.8
7.8

Daphni: “Cherry”

Ano: 2022

Selo: Jialong

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Four Tet e Floating Points

Ouça: Clavicle e Cloudy

/ Por: Cleber Facchi 13/10/2022

Há dez anos, quando deu vida ao primeiro registro de inéditas como Daphni, ficou bastante evidente o esforço de Dan Snaith em distanciar as composições reveladas pela nova identidade criativa do material que vinha produzindo como Caribou. Fortemente influenciado pelas as pistas, o produtor, compositor e cantor canadense decidiu investir na construção de um repertório marcado pelo uso de bases cíclicas e batidas sempre destacadas, reforçando o caráter dançante da própria obra. Mais de uma década após o entrega do disco, satisfatório perceber em Cherry (2022, Jialong) uma clara extensão desse resultado.

Sequência ao material entregue pelo artista em Joli Mai (2017), Cherry destaca a potência criativa de Snaith logo nos minutos iniciais do registro, em Arrow. Com um título bastante representativo – em português, “flecha” –, a faixa de apenas três minutos parece apontar apontar a direção seguida pelo produtor durante toda a execução do repertório. São fragmentos de vozes e bases atmosféricas que contrastam com a crescente sobreposição das batidas. É como uma interpretação urgente, mas não menos detalhista daquilo que Shinichi Atobe, Against All Logic e outros nomes da deep house têm incorporado a seus trabalhos.

A principal diferença em relação a outros trabalhos do gênero, em essência regidos pelo forte aspecto sintético das composições, está na forma como Snaith transita por entre estilos em uma abordagem sempre curiosa e conceitualmente diversa. Exemplo disso acontece em Always There, música que parte de uma base latina, porém, cresce no uso de efeitos e permanente aceleração imposta pelo produtor. Mesmo quando desacelera, como em Arp Blocks, prevalece o esforço do artista canadense em testar os próprios limites, direcionamento que acaba se refletindo até os minutos finais do registro, na pulsante Fly Away.

Embora marcado pela pluralidade de informações, Cherry, assim como os demais registros do Daphni, encanta pelo equilíbrio de Snaith durante toda a execução do material. São composições que transitam por entre estilos, porém, sustentam na construção das batidas um precioso componente de aproximação entre as faixas. Dessa forma, é bastante natural que o produtor vá do som futurístico testado em Mania para o funk nostálgico de Take Two sem necessariamente fazer disso o estímulo parta uma obra confusa. Um contrastante exercício criativo que garante maior fluidez, ritmo e evidente dinamismo ao trabalho.

Partindo dessa combinação de elementos, Snaith vai de um canto a outro de forma sempre detalhista. Em Clavicle, por exemplo, são as ambientações sutis e texturas eletrônicas que correm por entre as brechas da canção. O mesmo refinamento estético acaba se refletindo na composição seguinte, a já conhecida Cloudy. Da construção das batidas ao uso das vozes e bases melódicas que apontam para a obra de Four Tet, tudo soa como uma interpretação ainda mais sensível do repertório apresentado pelo artista. A própria faixa-título do disco destaca a riqueza dos elementos ao mesmo tempo em que preserva o caráter dançante.

Pronto para as pistas, com tudo aquilo que caracteriza as criações do Daphni, Cherry convence na maior parte do tempo, porém, está longe e parecer um registro impecável. Mesmo marcado pelo refinamento dado aos sintetizadores, uso sempre calculado das vozes e fragmentos instrumentais extraídos de diferentes campos da música, prevalece na construção das batidas uma similaridade excessiva. São estruturas que partem sempre de uma mesma abordagem, proposta que tende a consumir a experiência do ouvinte, mas que acaba contornada frente ao domínio e riqueza de detalhes impressos por Snaith.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.