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Crítica

Ducks Ltd.

: "Harm's Way"

Ano: 2024

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Beach Fossils

Ouça: The Main Thing e Train Full of Gasoline

7.8
7.8

Ducks Ltd.: “Harm’s Way”

Ano: 2024

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Beach Fossils

Ouça: The Main Thing e Train Full of Gasoline

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2024

Guitarras estridentes, sempre posicionadas em primeiro plano, mas que se completam pela precisão de uma bateria quase militar. Essa é a base do som produzido por Evan Lewis e Tom Mcgreevy no Ducks Ltd., projeto de jangle pop canadense que chega ao segundo trabalho de estúdio em um evidente exercício de aprimoramento técnico e estético. Intitulado Harm’s Way (2024, Carpark Records), o sucessor de Modern Fiction (2021) segue de onde a dupla de Toronto parou há três anos, porém, reserva algumas surpresas, conceito que se reflete tanto na construção dos versos como no meticuloso tratamento dado aos arranjos.

Com Hollowed Out como música de abertura, todos esses elementos são prontamente apresentados ao público. Enquanto os versos destacam o lirismo angustiado que há tempos consome as composições da banda (“Tudo o que fazemos é necessidade / Comer, foder e dormir / E então repetimos para sempre“), guitarras e batidas se entrelaçam de forma a capturar a atenção do ouvinte. É como uma estrutura talvez formulaica, mas que aos poucos revela suas nuances, como no flerte com o country em Cathedral City, faixa que soa como uma atualização do que os Byrds haviam testado em Sweetheart of the Rodeo (1968).

São acenos para o passado que confessam algumas das principais referências criativas da dupla, mas que em nenhum momento ocultam a identidade de Lewis e Mcgreevy. Exemplo disso fica mais do que evidente em The Main Thing, canção que transporta para o presente a mesma fluidez explorada por Johnny Marr e Mike Joyce nos primeiros anos dos Smiths. Esse mesmo senso de atualização pode ser percebido na canção seguinte, Train Full of Gasoline, música que utiliza de um trágico acidente ferroviário que marcou o Canadá em 2013 como metáfora para os versos sempre desenvolvidos de forma colaborativa entre os dois artistas.

Vem justamente desse lirismo melancólico, ainda que profundamente sóbrio, o principal componente de separação entre o repertório de Harm’s Way e Modern Fiction. Composições que utilizam de elementos figurativos para traduzir sentimentos e dores vividas pelos integrantes da banda. “Eu vejo você em cenas deletadas / Outras linhas do tempo, outros mundos / Eu vejo você em cenas deletadas / Nem na vida real, nem em sonhos“, cresce a letra de Deleted Scenes, música que não apenas sintetiza esse amadurecimento poético, como abre passagem para uma série de outras faixas que se aprofundam em experiências reais e personagens mundanos, conceito reforçado nas posteriores On Our Way To The Rave e A Girl, Running.

É como se a dupla partilhasse da mesma interpretação atenta de Stuart Murdoch sobre as coisas simples do cotidiano, porém, substituindo a abordagem comedida dos trabalhos do Belle and Sebastian por uma obra essencialmente enérgica. Embora posicionada próxima ao encerramento do disco, a faixa-título do álbum funciona como uma boa representação desse resultado. São versos descritivos que passeiam em meio a diferentes cenas e personagens de forma sempre curiosa, estrutura que se completa pela força das guitarras que sutilmente ampliam tudo aquilo que foi testado em estúdio pela banda no registro anterior.

Interessante perceber na derradeira Heavy Bag o princípio de uma nova fase na carreira da banda. Longe da euforia que orienta parte expressiva do registro, a faixa de quase três minutos chama a atenção pela maciez das vozes e sutileza dos instrumentos. Mesmo os arranjos de cordas, sempre complementares no restante da obra, assumem um protagonismo poucas vezes antes visto dentro da curta produção da dupla canadense. É como uma extensão natural de tudo aquilo que tem sido explorado desde Modern Fiction, porém, partindo de um necessário senso de atualização que abre caminho para o que ainda está por vir.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.