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Crítica

Enumclaw

: "Save the Baby"

Ano: 2022

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Bartees Strange e Soccer Mommy

Ouça: 2002, Jimmy Neutron e 10th and J 2

7.6
7.6

Enumclaw: “Save The Baby”

Ano: 2022

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Bartees Strange e Soccer Mommy

Ouça: 2002, Jimmy Neutron e 10th and J 2

/ Por: Cleber Facchi 04/11/2022

A melhor banda desde Oasis“. Por mais exagerada que possa parecer, a frase usada pelos integrantes da Enumclaw para descrever o trabalho da banda funciona como uma boa representação de onde vem parte das referências incorporadas pelo grupo norte-americano. A exemplo de Bartees Strange, Soccer Mommy, MJ Lenderman, Snail Mail e tantos outros artistas que surgiram ao longo da última década, o quarteto formado pelos músicos Aramis Johnson, Ladaniel Gipson, Nathan Cornell e Eli Edwards encontra no rock produzido entre os anos 1990 e 2000 uma inesgotável fonte de inspiração para o próprio repertório.

Primeiro álbum de estúdio da banda original de Tacoma, Washington, Save The Baby (2022, Luminelle Recordings) nasce como um acumulo natural de todas essas informações. Do timbre das guitarras ao uso destacado dos vocais, cada fragmento do disco parece pensado para conduzir o ouvinte em direção ao passado. São ecos de Nirvana, The Smashing Pumpkins, Mudhoney e outros tantos grupos que abasteceram a adolescência do quarteto estadunidense, porém, partindo de uma abordagem sempre atualizada, direcionamento reforçado pela construção dos versos que embalam a experiência do ouvinte.

Como indicado em toda a sequência de faixas reveladas pelo grupo ao longo dos últimos meses, Save The Baby gira em torno de memórias empoeiradas de Johnson. São composições que tratam sobre os primeiros anos de vida adulta do compositor, sempre ambientadas no antigo prédio onde o músico viveu assim que deixou a casa dos pais. A própria 10th and J 2, com a numeração exata do antigo apartamento do artista, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que o cantor olha de forma melancólica para o próprio passado, porém, regido pela permanente necessidade de seguir em frente.

Eu posso perder a cabeça se eu não deixar pra lá / Ou eu poderia ficar bem se eu perdesse a cabeça“, questiona o vocalista em 2002, composição que sintetiza parte do permanente atravessamento de informações, angústias e pensamentos que invadem a mente do artista. É como um mergulho no que há de mais doloroso nas experiências vividas pelo músico. Canções marcadas pela urgência dos elementos e pequenas citações a antigos desenhos animados, mas que a todo momento regressam a um ambiente consumido pelas emoções, proposta que estabelece um forte senso de conexão com o próprio ouvinte.

Nona faixa do disco, Jimmy Neutron funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto o título da composição aponta para a série animada da Nickelodeon, guitarras carregadas de efeito e batidas destacadas contrastam com a poesia amarga que invade o material. “Eu quero me apaixonar / Mas eu não acho que posso / Toda vez que eu chego perto de você / Eu começo a entrar em pânico“, canta. O mesmo acontece em Cowboy Bepop, música que confessa algumas das principais referências da banda, como o som ruidoso do Sonic Youth e a animação japonesa dirigida por Shinichiro Watanabe, contudo, sustenta no caráter emocional dado aos versos o principal componente criativo para o fortalecimento da canção.

Com base nessa estrutura, Johnson e seus parceiros de banda garantem ao público um registro que confessa referências e aponta para o passado de forma baste evidente, mas em nenhum momento perverte a identidade criativa e entrega explícita em cada mínimo fragmento poético. Mesmo a construção dos arranjos, alternando entre instantes de calmaria e caos, parece pensado de forma a potencializar esse resultado. É como um delicado exercício criativo que não apenas se aprofunda em conflitos sentimentais, medos e tormentos intimistas, como apresenta e ajuda a conhecer o trabalho da Enumclaw em essência.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.