Mesmo parte de uma importante família de instrumentistas, Fabiana Palladino decidiu seguir seu próprio caminho. Longe do suporte do pai, Pino Palladino, reverenciado baixista que já colaborou em estúdio com nomes como D’Angelo e John Mayer, além do irmão, Rocco, personagem de destaque do novo jazz inglês, a cantora e compositora britânica encontrou no discreto Jai Paul seu principal parceiro criativo. Juntos, os dois artistas atravessaram a última década em um reduzido, porém, precioso catálogo de composições.

Passado esse longo processo de preparação, Palladino regressa agora com a entrega do primeiro trabalho de estúdio da carreira. Autointitulado, o registro de dez faixas é um material que se revela aos poucos, sem pressa, porém, encanta a cada novo e sempre meticuloso movimento da cantora inglesa. São composições que dialogam com o presente, partilhando do mesmo método de produção incorporado por artistas como 1010benja e Tirzah, mas que lenta e delicadamente parecem conduzir o ouvinte em direção ao passado.

Entre ecos de Janet Jackson, Prince e Chaka Khan, Palladino vai de encontro ao mesmo território criativo explorado por Jessie Ware nos primeiros registros autorais, proposta que faz do álbum um exercício tão referencial quanto dono de uma identidade própria. Da escolha dos timbres, passando pela meticulosa inserção das batidas à construção dos arranjos que se abrem para a colaboração de membros da família, como o pai, o irmão e a irmã, Giancarla Palladino, cada componente parece cuidadosamente incorporado.

Entretanto, para além de questões técnicas e da evidente interferência criativa de Jai Paul durante toda a execução do disco, prevalece na força dos sentimentos e temas incorporados por Palladino a verdadeira riqueza do trabalho. “Você não vai me dar mais uma chance?“, questiona a artista na deliciosa Stay With Me Through the Night, um sophisti-pop funkeado que poderia facilmente ser encontrado em um álbum de Sade, mas que sintetiza parte das emoções, conflitos e desejos que orientam as composições da cantora.

São músicas como I Can’t Dream Anymore e a econômica I Care, com vozes divididas com o próprio Jai Paul, que mesmo embaladas por temas românticos talvez previsíveis, ganham novo enquadramento ao mergulhar na abordagem reducionista de Palladino. Nada que impossibilite a cantora de provar de uma sonoridade menos contida, conceito reforçado no pop retrô de Shoulda, faixa que lembra o Fleetwood Mac em Tango In The Night (1987), e In The Fire, canção que parece saída de Leak 04-13 (Bait Ones) (2019).

É como se Palladino aportasse em diferentes territórios criativos, inviabilizando a entrega de um material consumido pelo mesmo conjunto de ideias, mas que em nenhum momento rompe com o que parece ser uma abordagem própria da artista inglesa. Da linha de baixo sempre destacada ao enquadramento dado aos vocais, diversos são os elementos que aproximam cada uma das composições que integram o disco, mesmo as mais singulares, e delicadamente fazem do registro a passagem para um território particular.

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