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Crítica

Fabriccio

: "Selva"

Ano: 2021

Selo: Zeferina Produções

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Tássia Reis, Tuyo e Bebé

Ouça: Amor e Som, Orfeu e Teu Pretim

8.5
8.5

Fabriccio: “Selva”

Ano: 2021

Selo: Zeferina Produções

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Tássia Reis, Tuyo e Bebé

Ouça: Amor e Som, Orfeu e Teu Pretim

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2021

Selva (2021, Zeferina Produções) é um recomeço. Quatro anos após a entrega do primeiro álbum de estúdio, Jungle (2017), o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista Fabriccio está de volta com um novo registro autoral. Entretanto, contrário ao esperado de uma obra do gênero, o artista, em comum acordo com a antiga gravadora, decidiu extinguir o trabalho que revelou músicas como Teu Pretim, Foge Comigo e Orfeu, e reinterpretar cada uma delas partindo de uma nova abordagem estética. O resultado esse processo está na entrega de um material que naturalmente preserva a essência do repertório original, porém, potencializa cada mínimo fragmento lírico e instrumental.

Utilizando de uma base essencialmente econômica, mas não menos detalhista, Fabriccio confessa sentimentos, medos e momentos de maior vulnerabilidade de forma estreitar a relação com o ouvinte. São canções que transitam por entre gêneros e incorporam um vasto catálogo de referências, porém, preservando a identidade criativa do multi-instrumentista capixaba. A principal diferença em relação à versão original do disco, onde cada composição parecia funcionar como um objeto de estudo, está na maior homogeneidade dada ao presente álbum. É como se cada faixa servisse de passagem para a canção seguinte, conceito que se reflete até o último segundo da obra.

E isso fica bastante evidente no bloco central do trabalho, quando músicas como Orfeu, Preta e Beira Mar, mesmo conceitualmente distintas, parecem seguir um direcionamento bastante similar. São incontáveis camadas de teclados, guitarras atmosféricas e entalhes percussivos que se revelam ao público em pequenas doses, como um complemento aos vocais enevoados e momentos de maior melancolia expressos pelo artista. É como um labirinto de sons e sensações que exige ser desvendado pelo ouvinte. Instantes em que Fabriccio traz de volta tudo aquilo que foi entregue há quatro anos, porém, de forma tão transformadora e sensível que tudo soa como novidade para o ouvinte.

Nesse processo de ressignificação do passado, músicas antes adornadas por diferentes colaboradores, como O Poder do Machado de Xangô, se sustentam inteiramente nas vozes e sentimentos expressos por Fabriccio. Originalmente completa pela participação de Luedji Luna, a canção surge agora reformulada, fazendo da base de teclados e batidas cíclicas um estímulo para o encaixe dos vocais. A própria Teu Pretim, que inaugura o disco, reaparece em duas versões diferentes. De um lado, uma interpretação totalmente atmosférica e hipnótica, íntima de nomes como D’Angelo, no outro, a releitura de Rafa Dias, do ÀTTØØXXÁ, completa pelas vozes da cantora/rapper Drik Barbosa.

Claro que esse permanente resgate conceitual não interfere na apresentação de músicas inéditas. É o caso de Me Abraça. Completa pela participação dos curitibanos da Tuyo, a canção ganha forma em meio a guitarras espaçadas, batidas e vozes que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa, como uma extensão do material entregue no ainda recente Chegamos Sozinhos Em Casa (2021). Instantes em que Fabriccio sintetiza tudo aquilo que busca desenvolver ao longo da obra, porém, partindo de uma novo tratamento, proposta que não apenas reforça a grandeza do material apresentado em Selva, como abre passagem para os futuros lançamentos do artista.

Misto de passado e presente, Selva traz de volta todos os elementos que fizeram do artista capixaba um dos nomes mais interessantes da cena brasileira, porém, partindo de um novo e inusitado direcionamento criativo. Uma vez imerso em um território que parece desvendado em essência, Fabriccio demonstra saber como potencializar cada mínimo fragmento da obra, transformando faixas antes inexpressivas em registros de maior grandeza. São canções que transitam por sentimentos, debates raciais e tormentos de forma sempre sensível, íntima do ouvinte, indicativo do completo esmero e domínio do multi-instrumentista durante todo o processo de reinterpretação do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.