Ano: 2025
Selo: 11:59pm
Gênero: Rock, Shoegaze
Para quem gosta de: terraplana e Jonathan Tadeu
Ouça: Água-Forte, Espelho e Elegia
Ano: 2025
Selo: 11:59pm
Gênero: Rock, Shoegaze
Para quem gosta de: terraplana e Jonathan Tadeu
Ouça: Água-Forte, Espelho e Elegia
A urgência da bateria e o uso ruidoso das guitarras em Volver são mais do que suficientes para ambientar o ouvinte ao novo disco de Fernando Motta, Movimento Algum (2025, 11:59pm). Dotado de um imediatismo poucas vezes antes percebido na obra do músico mineiro, o trabalho não apenas segue de onde o cantor e compositor parou há quatro anos, no dinâmico Ensaio Pra Destruir (2021), como potencializa suas virtudes.
Acompanhado pelo produtor Thiago Klein (Quarto Negro, Apeles), Motta preserva a essência ruidosa dos registros anteriores, porém se permite brincar com o pop de maneira curiosa. O próprio encontro com os conterrâneos da Paira, em Elegia, funciona como uma boa representação desse resultado. Da bateria que aponta para os anos 1990 ao uso melódico das vozes, nunca antes o artista mineiro pareceu tão acessível.
Entretanto, é quando se entrega inteiramente à manipulação dos ruídos, efeitos e distorções que o músico garante ao público algumas de suas melhores criações. É o caso de Espelho. Enquanto os versos da canção detalham o existencialismo mágico de Motta, ambientações etéreas e texturas convidam o ouvinte a flutuar. É como uma exaltação e fina desconstrução de tudo aquilo que o compositor já havia testado em estúdio.
Esse mesmo direcionamento ecoa de maneira ainda mais impactante no que talvez seja a principal faixa do disco, Água-Forte. Completa pela participação do grupo curitibano terraplana, a composição avança sobre o ouvinte de forma tão opressiva quanto libertadora. São guitarras que se dobram como chapas de metal e vozes submersas que evocam, mas nunca se curvam ao trabalho de veteranos como My Bloody Valentine.
Mesmo quando utiliza de uma abordagem musicalmente contida, como na romântica Ladrilhar, os ruídos e ambientações granuladas estão lá, sempre acompanhados por versos que detalham o lirismo confessional de Motta. A questão é que, muitos dos temas e estruturas testadas nesses momentos de maior introspecção, não apenas diminuem drasticamente o ritmo do material, como esbarram em conceitos melhor elaborados pelo próprio artista em outros de seus trabalhos, como no melancólico Desde Que o Mundo É Cego (2017).
São composições como Especial, Pêndulo e Epíteto que, mesmo bem resolvidas e emocionalmente tocantes, parecem menores quando próximas dos instantes em que Motta tende à experimentação ou mesmo brinca com o pop. Ainda assim, essas faixas cumprem um papel importante, servindo como respiros pontuais que equilibram a densidade de momentos mais abrasivos. É como um exercício criativo em que ruído, melodia e vulnerabilidade coexistem de forma orgânica, reforçando o domínio do artista sobre a própria criação.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.