Image
Crítica

Four Tet

: "Three"

Ano: 2024

Selo: Text

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Caribou e Floating Points

Ouça: Daydream Repeat e Three Drums

8.0
8.0

Four Tet: “Three”

Ano: 2024

Selo: Text

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Caribou e Floating Points

Ouça: Daydream Repeat e Three Drums

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2024

Perto de completar três décadas de carreira, o produtor britânico Kieran Hebden parece ter consolidado uma identidade criativa como Four Tet, mas isso nunca o limitou a um formato específico. Exemplo mais representativo disso pode ser percebido nas composições de Three (2024, Text). Mais recente álbum de estúdio do artista inglês, o registro de oito faixas traz de volta uma série de elementos característicos da obra de Hebden, como as bases melódicas e batidas meticulosas, mas isso é apenas um ponto de partida.

Ainda menos urgente em relação ao antecessor Parallel (2020), Three reserva os minutos iniciais para revelar o lado contemplativo de Hebden. Com Loved como música de abertura, o produtor parte de uma bateria cíclica para brincar com a sobreposição dos elementos. São camadas de sintetizadores e vozes etéreas que avançam em uma medida própria de tempo. Instantes em que o artista traz de volta a mesma atmosfera econômica de obras como Pause (2001) e Rounds (2003), porém, de forma ainda mais delicada.

Essa mesmo esmero na montagem das composições fica ainda mais evidente na dobradinha composta por Gliding Through Everything e Storm Crystals. São pouco menos de onze minutos em que o produtor se debruça na costura de uma tapeçaria instrumental marcada pelo uso de sintetizadores cósmicos e batidas sempre calculadas. É como uma reinterpretação enevoada daquilo que o próprio Hebden testou em There Is Love in You (2010) e, ao mesmo tempo, um aceno para a criação de veteranos como Boards of Canada.

Com o ouvinte ambientado ao trabalho, chega a hora de Hebden levar o material para outras direções. E é exatamente isso que ele faz em Daydream Repeat, canção que preserva os sintetizadores cristalinos de outrora, porém, adornados pelo uso de ruídos e batidas destacadas que vão de encontro ao mesmo som pulsantes de Fred Again e outros colaboradores recentes do artista. Um inquietante atravessamento de informações que leva para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo de Four Tet.

Passado esse momento de maior euforia, Skater quebra de maneira bastante desconfortável o ritmo do trabalho, porém, encanta pela forma como Hebden mais uma vez busca por novas possibilidades para o uso das vozes e instrumentos. É como um respiro breve antes do retorno às pistas em 31 Bloom, faixa que reforça a precisão do artista na construção das batidas, porém, pouco avança quando próxima de outras criações do produtor, sensação também percebida com a reducionista So Blue, vinda logo em sequência.

Posicionada no encerramento do disco, a já conhecida Three Drums parte de uma abordagem similar ao material entregue na introdutória Loved, com sua bateria marcada, porém, cresce na lenta sobreposição dos elementos. São pouco mais de oito minutos em que Hebden convida o ouvinte a se perder em uma experiência quase transcendental, efeito direto do uso de sintetizadores e ruídos que criam pequenas conexões com os antigos trabalhos do artista e ainda desembocam em um lugar completamente novo.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.