Ano: 2024
Selo: Rough Trade
Gênero: Art Rock, Jazz
Para quem gosta de: Black Midi e Squid
Ouça: Holy, Holy, Terra e Blues
Ano: 2024
Selo: Rough Trade
Gênero: Art Rock, Jazz
Para quem gosta de: Black Midi e Squid
Ouça: Holy, Holy, Terra e Blues
Se você ouvir os três discos do Black Midi em sequência, Schlagenheim (2019), Cavalcade (2021) e Hellfire (2022), perceberá como o som do grupo britânico foi de algo essencialmente cru para um repertório cada vez mais complexo. Parte desse resultado vem do confesso interesse do vocalista e principal compositor da banda, o guitarrista Geordie Greep, em incorporar cada vez mais elementos, ampliando os horizontes do projeto. É como um delirante atravessamento de informações, diferentes ritmos e possibilidades que ganha novo e curioso significado com a chegada do material entregue em The New Sound (2024, Rough Trade).
Estreia de Greep em carreira solo, o registro concebido durante os intervalos da última turnê do Black Midi, que agora segue em hiato, destaca o esforço do músico inglês em romper com qualquer traço de conforto. São composições que seguem de onde o guitarrista parou em Hellfire, porém, partindo de uma abordagem ainda mais diversa, estruturalmente imprevisível e complexa, proposta que vai do jazz à música brasileira.
Exemplo disso é o que acontece em Holy, Holy. São pouco mais de seis minutos em que Greep traz de volta a mesma aceleração explícita nos primeiros registros do Black Midi, porém estabelece no uso de metais e percussão abrasileirada um precioso componente de renovação. É como se o músico fosse ao encontro de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos e outros nomes importantes das décadas de 1970 e 1980, direcionamento também explorado em canções como Terra, Through a War e a própria faixa-título.
E não poderia ser diferente. Ainda que parte parte das sessões e o acabamento final do trabalho tenha se dado em Londres, foi durante a passagem do guitarrista pelo Brasil, entre novembro e dezembro de 2023, onde agendou gravações em São Paulo com diferentes músicos locais, que o alicerce instrumental do disco foi estabelecido. O resultado desse processo está na entrega de um material que leva a obra de Greep para direções inimagináveis, proposta que vai da insana Blues, na abertura do registro, até os momentos finais.
Não por acaso, quanto mais se distancia desse resultado, menos interessante acaba se revelando The New Sound. São canções como Walk Up e a releitura para If You Are But a Dream, de Frank Sinatra, que, mesmo bem elaboradas, pouco contribuem para o restante da obra, soando como criações menores. Claro que isso não interfere na entrega de faixas que, embora íntimas dos antigos trabalhos de Greep, fascinam o ouvinte, caso da extensa The Magician, já conhecida das apresentações do Black Midi, e da labiríntica Motorbike.
O mais fascinante talvez seja perceber como todos esses elementos, diferentes propostas criativas e ritmos, se entrelaçam de forma consistente durante toda a execução da obra. É como se Greep, sempre amparado pelo coprodutor Seth Evans, músico de apoio no Black Midi, pela primeira vez estivesse verdadeiramente livre e consciente de suas possibilidades em estúdio. Dessa forma, o compositor apresenta uma obra que, mesmo desafiadora em sua essência, oferece ao ouvinte uma experiência coesa, reafirmando a capacidade do guitarrista em transitar por territórios pouco explorados e ainda expandir os limites da própria criação.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.