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Crítica

Glasser

: "Crux"

Ano: 2023

Selo: One Little Independent

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Braids e Austra

Ouça: Easy, All The Lovers e Drift

7.3
7.3

Glasser: “Crux”

Ano: 2023

Selo: One Little Independent

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Braids e Austra

Ouça: Easy, All The Lovers e Drift

/ Por: Cleber Facchi 10/01/2024

Cameron Mesirow é uma dessas artistas que viveram um período bastante movimentado nos primeiros anos de carreira, mas que quase desapareceram posteriormente. Depois de lançar o primeiro álbum de estúdio como Glasser, o bem-recebido Ring (2010), e de regressar com o posterior Interiors (2013), a cantora e compositora norte-americana mergulhou em um longo período de hiato. Foi somente em 2018, com o experimental Sextape (2018), um EP de spoken word em que reflete sobre o sexo entre pessoas queer, que a musicista de Boston, Massachusetts, começou a preparar o terreno para um possível retorno.

Agora, mais de uma década após o último trabalho de estúdio, Mesirow regressa com o aguardado Crux (2023, One Little Independente). Talvez limitado ou pouco inovador em relação ao material entregue pela artista no disco anterior, o registro avança em um território bastante característica das composições de Glasser, porém chama a atenção pela construção dos versos. Em geral, são canções marcadas pelo uso de temas existenciais, momentos de maior instabilidade emocional e pequenas inquietações acumuladas pela cantora nos últimos dez anos, como um exercício criativo bastante particular, porém, nunca inacessível.

Não, não há desculpa para desistir / Tenho idade suficiente para saber / Mas o vento continua soprando / E eu começo a ficar à deriva“, canta em Drift, composição em que reflete sobre a morte e a passagem do tempo. A diferença em relação a outros trabalhos do gênero ou que partilham de temáticas similares, está na leveza alcançada pela artista. Ao mesmo tempo em que reflete sobre a finitude da vida, a cantora convida o ouvinte a dançar, resultando em uma contrastante combinação de sentimentos. É como um ziguezaguear de emoções que tensionam na mesma medida em que parecem atrair a atenção do ouvinte.

Outra que utiliza de um direcionamento bastante similar é Easy. Enquanto a base da canção partilha do mesmo reducionismo hipnótico explorado por Björk em Vespertine (2001), Mesirow sustenta nos versos a passagem para uma de suas criações mais delicadas. Trata-se de um exercício contemplativo em que reflete sobre a morte precoce de um antigo namorado. “Há flores lá fora / Há campos delas … Logo elas serão poeira em sua boca / Na minha boca“, canta em meio a batidas fragmentadas e sintetizadores que se completam pela coprodução de Patrick Ford, com quem colabora durante toda a execução do trabalho.

Partindo dessa combinação entre versos consumidos pela força das emoções e bases essencialmente econômicas, Mesirow garante ao público uma obra equilibrada, por vezes contida em excesso, porém, sempre fascinante. Ainda assim, sobrevive nos momentos de maior exaltação e criativo diálogo com os antigos trabalhos o estímulo para algumas das composições mais interessantes do disco. Exemplo disso pode ser percebido em Clipt. São pouco menos de cinco minutos em que a artista avança aos poucos e delicadamente conduz o ouvinte para dentro de um território marcado pela potência das vozes e batidas.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra que se articula de forma bastante contida, mas que explode nos momentos certos. É como se para cada composição puramente atmosférica, Mesirow reservasse ao público uma contraparte que não necessariamente se revela de forma grandiosa, porém, rompe com uma suavidade talvez excessiva. A própria sequência de abertura, composta por A Guide e Vine, funciona como uma boa representação desse resultado. Um jogo de pequenos acréscimos, quebras e subtrações que mais uma vez destacam o sempre meticuloso processo de criação adotado por Glasser.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.