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Crítica

Hana Vu

: "Public Storage"

Ano: 2021

Selo: Ghostly International

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Jay Som e Japanese Breakfast

Ouça: Keeper e Everybody’s Birthday

7.3
7.3

Hana Vu: “Public Storage”

Ano: 2021

Selo: Ghostly International

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Jay Som e Japanese Breakfast

Ouça: Keeper e Everybody’s Birthday

/ Por: Cleber Facchi 18/11/2021

Pensar em Public Storage (2021, Ghostly International) como o primeiro álbum de Hana Vu é algo estranho. Em atuação desde o início da década passada, a cantora e compositora norte-americana conta com um vasto acervo de obras produzidas de forma totalmente independente, cumprindo com esse caráter introdutório. Não por acaso, ao esbarrar nas canções do presente disco, tudo soa de forma competente e coesa, indicativo de uma artista que sabe exatamente onde quer chegar, mas que em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte, vide a criativa sobreposição de ideias que abastecem o trabalho.

Sequência ao material entregue em Nicole Kidman / Anne Hathaway EP (2019), de onde vieram músicas como At The Party e Actress, o registro que conta com co-produção de Jackson Phillips (Hazel English, Day Wave), mostra a busca da artista de Los Angeles por um repertório alimentado em essência por memórias da infância e adolescência. São canções que buscam inspiração nas rádios de rock alternativo dos anos 1990 e 2000, mas que em nenhum momento minimizam a força dos sentimentos e identidade de Vu, inclinada a desempacotar lembranças desse espaço de armazenamento sensorial que dá nome ao disco.

Aqui está o meu recibo / Aqui estão todos os meus registros, vou te mostrar / Tudo que eu tenho que provar“, canta na melancólica faixa-título do disco, canção que sintetiza parte dos sentimentos e temas que serão explorados ao longo da obra. “Aqui estão meus hematomas / Todos os meus amassados ​​e meus fusíveis / Tudo que eu tenho que provar“, completa. É como se Vu preservasse tudo aquilo que tem incorporado desde os primeiros registros autorais, porém, de forma ainda mais sensível, forte, estrutura que em nenhum momento oculta a capacidade da artista em incorporar elementos da música pop.

Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Keeper. Enquanto os versos refletem a forte carga emocional presente durante toda a execução do trabalho – “E todas as outras coisas más que você pensa que eu poderia ser / Todas as pessoas pelas quais você magoou não são por você / Todo o amor que você pede não é para você” –, camadas de sintetizadores e batidas se entrelaçam de forma a capturar a atenção do ouvinte. Esse mesmo caráter acessível acaba se refletindo na crescente Aubade, música que reflete o lado mais comercial da cantora, proposta que vai do uso das guitarras ao tratamento dado aos vocais.

Mais do que um exercício de confirmação, como uma soma natural de tudo aquilo que define a obra e a estética da cantora, Public Storage cresce como uma obra marcada pelas possibilidades. E isso fica bastante evidente na música de encerramento do trabalho, Maker, composição regida pelo uso de ambientações acústicas, como uma fuga do restante da obra. Mesmo quando se entrega ao ruidoso jogo de guitarras, Vu reserva ao público algumas surpresas. É o caso de Gutter, faixa que aponta para a obra de veteranas como PJ Harvey e Hole, porém, preservando a própria identidade e poesia sempre confessional.

Vem justamente desse lirismo intimista o principal componente de aproximação entre as faixas de Public Storage. São canções que vão de um canto a outro, sempre diversas, porém, conectadas pelas emoções e vivências da artista californiana. E isso fica bastante evidente na forma como a cantora vai da base densa de My House ao pop rock cantarolável de Everybody’s Birthday sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa. É como se tudo fosse resolvido de forma sempre equilibra. Melodias, sentimentos e versos que orbitam um universo tão particular de Vu quanto do próprio ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.