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Crítica

Harry Styles

: "Harry's House"

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Dua Lipa e Troye Sivan

Ouça: As It Was., Daydreaming e Late Night Talking

7.5
7.5

Harry Styles: “Harry’s House”

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Dua Lipa e Troye Sivan

Ouça: As It Was., Daydreaming e Late Night Talking

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2022

Harry Styles parece ter se especializado na produção de um repertório deliciosamente retrô, ainda que marcado pelo evidente frescor dos elementos. Se em início de carreira o cantor e compositor britânico encontrou na obra de veteranos da cena inglesa uma importante fonte de inspiração, vide o material apresentado no autointitulado registro de estreia e no sucessor Fine Line (2019), com a chegada de Harry’s House (2022, Columbia), terceiro e mais recente trabalho de estúdio, o ex-integrante do One Direction continua a apontar para o passado de forma bastante decidida, porém, as referências agora são outras.

Com título inspirado no cultuado Hosono’s House (1973), estreia em carreira solo de Haruomi Hosono, um dos integrantes do Yellow Magic Orchestra, Harry’s House diz a que veio logo nos primeiros minutos, em Music for a Sushi Restaurant. Enquanto os versos se dividem entre a provocação e o fascínio pela pessoa amada (“Olhos verdes, arroz frito, eu poderia cozinhar um ovo em você“), a linha de baixo suculenta e sintetizadores nostálgicos transportam o ouvinte diretamente para o início da década de 1980. São ecos de Prince e David Bowie, proposta que embala a experiência do ouvinte até o fechamento do trabalho.

Uma vez imerso nesse ambiente marcado pelo forte aspecto revisionista, Styles faz de cada composição um precioso exercício criativo. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida As It Was, música que soa como uma combinação entre The Adults Are Talking, do grupo nova-iorquino The Strokes, e Take On Me, da banda norueguesa A-Ha. Um misto de passado e presente, proposta que ganha ainda mais destaque na letra existencialista que discute solidão e isolamento. “Neste mundo, somos apenas nós / Você sabe que não é o mesmo que era“, detalha em meio a batidas rápidas e camadas de sintetizadores, sempre pegajosas.

Nada que impossibilite a busca por novas sonoridades e diferentes direções criativas. E isso fica bem representado na crescente Daydreaming, nona faixa do trabalho. Inaugurada em meio a fragmentos de Ain’t We Funkin Now, música originalmente lançada em 1978 pela banda The Brothers Johnson, a canção regressa ao mesmo território explorado em Fine Line, porém, partindo de uma abordagem ainda mais complexa e musicalmente interessante. A própria Late Night Talking, logo na abertura do disco, evidencia o esmero do artista no tratamento dado aos vocais e uso dos arranjos assumidos quase que integralmente pelos produtores Kid Harpoon (Jessie Ware, Lily Allen) e Tyler Johnson (Taylor Swift, Miley Cyrus).

Sobrevive justamente nesse refinamento dado aos arranjos e minucioso processo de criação um dos grandes acertos de Harry’s House. Na contramão de outros nomes recentes da música pop, inclinados à produção de um repertório cada vez mais sintético e formatado, Styles potencializa o uso dos instrumentos e transita por entre estilos de forma sempre detalhista. E isso fica ainda mais evidente nos momentos em que o trabalho desacelera, como em Matilda. Regida em essência pelo violão de Harpoon, a faixa ganha ainda mais destaque no uso completar do violoncelo assumido por Dev Hynes (Blood Orange). Quem também aparece é John Mayer, responsável pelas guitarras em Cinema e na já citada Daydreaming.

Registro mais completo já produzido pelo músico inglês, Harry’s House segue de onde Styles parou no álbum anterior, porém, amplia consideravelmente o campo de atuação do artista. Mesmo que pequenos excessos e composições menores sejam percebidas ao longo da obra, vide a sequência de fechamento do material, prevalece o requinte e evidente equilíbrio do repertório. São canções que, a exemplo dos recentes trabalhos Dua Lipa e The Weeknd, buscam inspiração no pop produzido há mais de três décadas, mas em nenhum momento ocultam a identidade criativa e refinamento estético que parece próprio do cantor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.