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Crítica

The Weeknd

: "Dawn FM"

Ano: 2022

Selo: XO / Republic

Gênero: R&B, Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Michael Jackson e Drake

Ouça: Take My Breath e Less Than Zero

8.0
8.0

The Weeknd: “Dawn FM”

Ano: 2022

Selo: XO / Republic

Gênero: R&B, Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Michael Jackson e Drake

Ouça: Take My Breath e Less Than Zero

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2022

Em outubro de 2020, poucos meses depois de trabalhar na produção do bem-recebido After Hours (2020), de The Weeknd, Daniel Lopatin decidiu investir em um novo registro de inéditas como Oneohtrix Point Never, identidade assumida desde o início dos anos 2000. Durante o processo de criação do material, o produtor de Wayland, Massachusetts, encontrou em antigas estações de rádio da década de 1980 o estímulo para a formação de um repertório tão misterioso quanto hipnótico, conceito que se reflete em parte expressiva das composições de Magic Oneohtrix Point Never (2020), obra em que estreita a relação com Caroline Polachek (Long Road Home), Arca (Shifting) e o próprio Abel Tesfaye (No Nightmares).

Embora siga por um caminho completamente distinto em relação ao material entregue em Dawn FM (2022, XO / Republic), quinto e mais recente trabalho de estúdio de The Weeknd, difícil não pensar nas canções de Oneohtrix Point Never como um esboço para o som incorporado pelo cantor e compositor canadense. Do uso caricatural dos sintetizadores às vinhetas que se completam pela inusitada participação do ator e comediante Jim Carrey, vizinho do artista, tudo contribui para o ambiente nostálgico e conceitual do registro. Entretanto, enquanto Lopatin segue no que parece ser uma estação de rádio pirata, talvez captada de algum universo paralelo, Tesfaye investe no que há de mais pop e convidativo em uma obra do gênero.

Não por acaso, esse talvez seja o trabalho mais acessível e musicalmente versátil de toda a discografia do artista canadense. Utilizando de uma base de sintetizadores empoeirados e batidas rápidas, The Weeknd e seus parceiros de estúdio, entre eles, Max Martin e Oscar Holter, garantem ao público um novo tratamento ao R&B romântico que tem sido aprimorado pelo cantor desde o confessional My Dear Melancholy, (2018). E isso fica bastante evidente na potência de Take My Breath, música que vai de Michael Jackson a Daft Punk em uma criativa combinação de ideias, ritmos e referências. A própria Gasoline, logo na abertura do disco, parte de uma base atmosférica, porém, incendiária, como um combustível para o restante do álbum.

O resultado desse processo está na entrega de um registro contrastante que encanta pela melancolia dos versos, mas que invariavelmente convida o ouvinte a dançar. Perfeita representação desse resultado acontece em Less Than Zero, próxima ao encerramento do disco. Enquanto a letra, consumida pela dor, parece pensada para estreitar a relação com o público, sintetizadores altamente melódicos e batidas descomplicadas arrastam o ouvinte para as pistas. “Não, eu não consigo me livrar desse sentimento que rasteja na minha cama / Eu tento esconder isso, mas eu sei que você me conhece“, confessa. O mesmo resultado acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em How Do I Make You Love Me? e Sacrifice, músicas que refletem o que há de mais referencial e pegajoso nas criações do artista.

Entretanto, o que realmente chama a atenção e distancia Dawn FM de outros registros produzidos pelo artista, como Starboy (2016) e o já citado After Hours, é a base existencialista que serve de sustento ao material. Do momento em que tem início, na autointitulado música de abertura, o trabalho funciona como um exercício de transição do protagonista, que acabou de falecer, para o além-vida. A própria imagem de capa, com Tesfaye envelhecido, no escuro de um purgatório conceitual, contribui para esse resultado. Não por acaso, parte expressiva das canções giram em torno de memórias de um passado ainda recente, culpas e arrependimentos, proposta reforçado na dolorosa Out of Time, faixa potencializada pelo depoimento do produtor Quincy Jones, minutos antes, e fragmentos de Midnight Pretenders, da cantora Tomoko Aran.

Mesmo o time de colaboradores que aparece durante a execução da obra, como Tyler, The Creator, em Here We Go… Again, e Lil Wayne, em I Heard You’re Married, contribui para o lirismo sorumbático e atmosfera soturna que orienta a formação do disco. São desilusões amorosas, medos e momentos de maior vulnerabilidade. Uma delicada combinação de elementos que vai da construção dos versos ao tratamento dado aos arranjos, como retalhos instrumentais e poéticos que se entrelaçam de forma sempre sensível. De fato, difícil não pensar em Dawn FM como uma obra única. Canções que funcionam no isolamento previsto pelo artista, mas que parecem maiores e mais interessantes quando observadas em unidade, disfarçando de maneira inteligente a previsível base oitentista que há tempos tem sido explorada por The Weeknd.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.