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Crítica

The Weeknd

: "After Hours"

Ano: 2020

Selo: XO / Republic

Gênero: Hip-Hop, R&B, Rap

Para quem gosta de: Drake, Frank Ocean e Miguel

Ouça: After Hours, Scared To Live e Hardest To Love

8.0
8.0

The Weeknd: “After Hours”

Ano: 2020

Selo: XO / Republic

Gênero: Hip-Hop, R&B, Rap

Para quem gosta de: Drake, Frank Ocean e Miguel

Ouça: After Hours, Scared To Live e Hardest To Love

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2020

Quem conheceu o trabalho de Abel Tesfaye, o The Weeknd, por conta do sucesso em torno de Can’t Feel My Face, uma das principais músicas de Beauty Behind the Madness (2015), segundo álbum de estúdio do artista canadense, provavelmente deixou passar algumas de suas criações mais sensíveis. Longe do direcionamento comercial que embala os registros mais recentes do cantor e compositor norte-americano, como Kiss Land (2013) e Starboy (2016), sobrevive nos introdutórios House of Balloons (2011), Thursday (2011) e Echoes of Silence (2011), parte da coletânea Trilogy (2012), a passagem para um fino catálogo de ideias e criações intimistas marcadas pela força dos sentimentos.

Interessante perceber nas canções de After Hours (2020, XO / Republic), quarto e mais recente álbum de estúdio do artista canadense, um parcial regresso ao mesmo território criativo detalhado nos primeiros registros autorais de Tesfaye. Obra de sentimentos, como tudo aquilo que o músico tem produzido desde a entrega do confessional My Dear Melancholy, (2018), trabalho em que canta sobre o fim de relacionamento com a cantora Selena Gomez, o novo disco encontra em memórias de um passado ainda recente o estímulo para um dos projetos mais tocantes do artista.

Eu sei que as coisas nunca mais serão as mesmas / O tempo que perdemos nunca será substituído / Eu sou a razão pela qual você esqueceu de amar / Portanto, não tenha medo de viver novamente“, canta em Scared To Live, música que não apenas sintetiza parte das experiências detalhadas ao longo da obra, como encontra em interpolações com Your Song, de Elton John, um importante alicerce criativo. São frações poéticas que se dividem entre o canto e a rima, o recolhimento e a parcial libertação, proposta evidente em outros momentos no decorrer do álbum, como na dolorosa Snowchild, canção em que discute os próprios problemas com as drogas, e Escape From LA, faixa que replica a mesma atmosfera explícita em House of Balloons.

Entretanto, para além do simples reciclagem de tendências e fórmulas resgatas dos primeiros registros de Tesfaye, sobrevive no curioso diálogo com a música dos anos 1980 um importante elemento de transformação para o álbum. Exemplo disso está na própria faixa de abertura do disco, Alone Again, canção que ganha forma em meio a sintetizadores empoeirados, como se resgatados da trilha sonora de Blade Runner (1982). A própria Blinding Lights, com suas melodias e batidas dançantes, parece transportar o ouvinte para o passado. Instantes em que o músico canadense vai do pop nostálgico de A-Ha e Tears For Fears à obra de Michael Jackson, uma de suas principais referências criativas.

Parte dessas propositada mudança de direção vem da escolha do artista em estreitar a relação com um time seleto de novos colaboradores. São nomes como Metro Boomin, Kevin Parker (Tame Impala) e Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never), os dois últimos, parceiros na atmosférica Repeat After Me, canção que prepara o terreno para a bem-sucedida faixa-título do trabalho. Um delicado exercício de transformação, mas que em nenhum momento inviabiliza o diálogo de Tesfaye com alguns de seus parceiros mais frequentes, como Illangelo, Frank Dukes e o requisitado Max Martin, com quem assina o pop eletrônico de Hardest To Love.

Embora bem-resolvido conceitualmente, não há como ignorar o forte aspecto monotemático que orienta a composição dos versos. Salve canções como a já citada Snowchild, não são poucos os momentos do disco em que Tesfaye utiliza de conflitos sentimentais como estímulo para a formação das letras, proposta que não necessariamente prejudica o rendimento da obra, porém, torna a experiência do ouvinte arrastada, principalmente no bloco central do registro. Instantes em que o artista canadense se permite afundar nas próprias desilusões, proposta que dita de forma melancólica os rumos da obra até o último segundo de After Hours.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.