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Crítica

Jards Macalé

: "Besta Fera"

Ano: 2019

Selo: Pommelo

Gênero: Experimental, Samba, Rock

Para quem gosta de: Elza Soares e Metá Metá

Ouça: Trevas e Longo Caminho do Sol

8.8
8.8

Jards Macalé: “Besta Fera”

Ano: 2019

Selo: Pommelo

Gênero: Experimental, Samba, Rock

Para quem gosta de: Elza Soares e Metá Metá

Ouça: Trevas e Longo Caminho do Sol

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2020

A fantasmagórica imagem de capa de Besta Fera (2019), aguardado retorno de Jards Macalé depois de um hiato de duas décadas, funciona como indicativo para o ambiente sombrio que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. Primeiro registro de inéditas do cantor e compositor carioca desde o ótimo O Q Faço É Música (1998), o trabalho que conta com produção de Kiko Dinucci (Metá Metá) e Thomas Harres não apenas resgata a essência do artista, efeito do olhar curioso sobre os três primeiros trabalhos de estúdio – Jards Macalé (1972), Aprender a Nadar (1974) e Contrastes (1977) –, como se entrega à ruptura e permanente senso de descoberta. “Eu sou aquele que ao passar dos anos / Cantando a minha lira maldizente / Torpezas do Brasil, vícios, enganos / E bem que os de cantar constantemente / Canto segunda vez na mesma lira / O mesmo assunto em pletro diferente“, reflete no samba torto que embala a faixa-título do disco. São versos sóbrios que indicam o permanente desejo de mudança do músico, resgatam trechos da obra de Gregório de Matos e ainda se abrem para o cavaquinho minucioso de Rodrigo Campos e o saxofone de Thiago França (Metá Metá).

Um ziguezaguear de ideias e experiências pessoais que ora mergulha em um ambienta caótico, ora se permite explorar um universo de emoções e sentimentos mundanos. Canções que partem da mente inquieta de Macalé, como a derradeira Valor, originalmente gravada em fita cassete no início dos anos 1980, porém, se permitem dialogar com uma geração de novos artistas. É o caso de Tim Bernardes, na colaborativa Buraco da Consolação, Juçara Marçal, em Peixe, e, principalmente, Romulo Fróes, diretor artístico da obra e parceiro na delirante Longo Caminho do Sol. Trata-se de um registro turbulento, forte, como uma fuga conceitual do recanto onde parte expressiva do álbum foi concebido, em um sítio na região de Penedo, na Serra da Mantiqueira. Ideias que se entrelaçam sem ordem aparente, indicando um parcial resgate criativo aos poemas e experiências acumuladas pelo músico carioca nas últimas duas ou mais décadas.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.