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Crítica

Jenny Hval

: "Classic Objects"

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e Cate Le Bon

Ouça: Jupiter, Freedom e Year of Love

8.0
8.0

Jenny Hval: “Classic Objects”

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e Cate Le Bon

Ouça: Jupiter, Freedom e Year of Love

/ Por: Cleber Facchi 17/03/2022

Por mais acessível que possa parecer o trabalho de Jenny Hval, nunca espere pelo óbvio da cantora e compositora norueguesa. E isso fica bastante evidente nas canções de Classic Objects (2022, 4AD). Sequência ao material entregue pela artista em Menneskekollektivet (2021), obra que contou com a colaboração do multi-instrumentista Håvard Volden, o registro de oito faixas utiliza de uma abordagem menos complexa quando próximo do provocativo Blood Bitch (2016), mas que em nenhum momento deixa de tensionar a experiência do ouvinte, convidado a se perder em um labirinto de formas pouco usuais.

Concebido durante um dos períodos mas críticos da pandemia de Covid-19, com Hval isolada dentro da própria casa, Classic Objects parte das inquietações vividas pela compositora para explorar diferentes aspectos da nossa sociedade. “Em 2020, como todo mundo, eu era apenas uma pessoa privada. Nenhum artista foi autorizado a se apresentar. Fui reduzida a ‘apenas eu’“, comentou no texto de apresentação do material. Vem justamente desse esforço constante em ressignificar a própria existência e rever conceitos há muito estabelecidos o estímulo para algumas das principais composições que abastecem o registro.

É o caso de Freedom. Pouco mais de dois minutos em que a artista discute de forma bastante aprofundada o real significado, a ausência e constante busca por liberdade. “Lá fora está o mundo / Onde você está ameaçando as vidas / De indivíduos frágeis quando você mexe na lama“, canta. “Olhe para os pássaros / Para as multidões que se dispersaram / No ar ferido que chamamos de ‘liberdade’“, completa em meio arranjos sublimes, contrastando com a sobriedade dos versos. Instantes em que Hval parte do ambiente pandêmico a que foi submetida para dialogar com o presente cenário em uma abordagem atualizada.

Esse mesmo esforço em ampliar a discussão a partir de um tema bastante específico fica ainda mais evidente na introdutória Year Of Love. Trata-se de uma delicada reflexão sobre a vida matrimonial, estrutura que utiliza das experiências vividas por Hval (“Nós nos casamos em um dia chuvoso / Não é assim que a música vai? / Eu usava jeans preto e codeína“), mas que aporta em outras inquietações. É como um mergulho na mente agitada e sempre imprevisível da cantora norueguesa, direcionamento que tem sido explorado desde o amadurecimento artístico expresso nas canções de Innocence Is Kinky (2013).

A principal diferença em relação a outros trabalhos de Hval em carreira solo, principalmente quando voltamos os ouvidos para o antecessor The Practice Of Love (2019), está no esforço em provar de novas sonoridades em estúdio. Do momento em que tem início, na percussão tropical e flerte com o reggae de Year of Love, passando pelo som atmosférico de Cemetery Of Splendour ao pop psicodélico de Jupiter, cada fragmento do disco parece pensado de forma a transportar o ouvinte para diferentes cenários, estrutura que dialoga diretamente com o lirismo versátil que caracteriza as criações da artista.

Co-produzido em parceria com Kyrre Laastad, Classic Objects parte dos conflitos vividas por Hval durante o período de isolamento social, porém, cresce para além dos limites impostos pela cantora. São canções que utilizam de um processo de simplificação no tratamento dado aos versos e melodias, como se pensadas para capturar a atenção do ouvinte, mas que trilham caminhos pouco usuais e momentos de maior experimentação que ampliam os limites da obra. Um misto de acolhimento e permanente senso de provocação, proposta que tem embalado as criações da cantora desde os primeiros registros autorais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.